Você está aqui:Home » Dicas » Estudantes » Resumo de livro: São Bernardo, de Graciliano Ramos

Resumo de livro: São Bernardo, de Graciliano Ramos

Olá, leitor!

A obra São Bernardo, de Graciliano Ramos, foi escrita em 1934 e publicada em 1938, sendo um dos romances mais importantes da segunda geração modernista (1930/1944) e um livro que compõe o Clico das Secas, grupo de obras de escritores nacionais dessa escola literária que abordam a falta de água e de recursos em alguns locais do Nordeste do Brasil.

A história dessa obra se destaca, porque Graciliano Ramos (1892 – 1953) tece uma trama muito envolvente, amarrando o enredo com um pano de fundo histórico. São Bernardo retrata a miséria causada pela seca e suas consequências na vida das pessoas. O livro narra a saga de um personagem sincero e bruto, que é desumanizado e perde a capacidade de buscar um sentido real para a sua existência.

Resolvi discorrer sobre as minhas viagens ao sertão. Depois, com indiferença, insisti nos trinta e quatro contos e obtive modificação para cinquenta e cinco. Mostrei generosidade: trinta e cinco. Padilha endureceu nos cinquenta e cinco, e eu injuriei-o, declarei que o velho Salustiano tinha deitado fora o dinheiro gasto com ele, no colégio. Cheguei a ameaçá-lo com as mãos. Recuou para cinquenta. Avancei a quarenta e afirmei que estava roubando a mim mesmo.

Nesse ponto cada um puxou para o seu lado. Fincapé. Chamei em meu auxílio o Mendonça, que engolia a terra, o oficial de justiça, a avaliação e as custas. O infeliz, apavorado, desceu a quarenta e oito. Arrependi-me de haver arriscado quarenta: não valia, era um roubo. Padilha escorregou a quarenta e cinco. Firmei-me nos quarenta. Em seguida roí a corda:

– Muito por baixo. Pindaíba.

Descontado o que ele me devia, o resto seria dividido em letras. Padilha endoideceu: chorou, entregou-se a Deus e desmanchou o que tinha feito. Viesse o advogado, viesse a justiça, viesse a polícia, viesse o diabo. Tomassem tudo. Um fumo para o acordo! Um fumo para a lei!

Resumo da obra

São Bernardo, Graciliano Ramos

Fonte: Reprodução

Paulo Honório era um menino órfão criado por uma mulher negra que trabalhava como doceira. Desde pequeno, ele trabalhava, fosse guiando um cego da região, fosse vendendo cocada.

Um tempo depois, ele foi trabalhar na roça, o que fez até completar 18 anos. Um dia, ele  esfaqueou um homem chamado João Fagundes, que havia se envolvido com a mulher da qual Paulo Honório gostava.

Por conta disso, ele foi preso e, na cadeia, aprendeu a escrever com outro detento. No cárcere, Paulo Honório definiu que ganhar dinheiro seria seu objetivo de vida. Ao sair da prisão, sua primeira atitude foi buscar dinheiro emprestado de um agiota. Em seguida, começou a negociar gado e outros bens pela região.

Ele enfrentou muitas injustiças, passou sede e fome, tentando superar tudo isso com frieza e usando meios nada corretos, como ameaçar e roubar. Depois de juntar uma quantia considerável de dinheiro, ele voltou para sua cidade natal, Viçosa, sonhando em comprar a fazenda São Bernardo, na qual trabalhara na infância.

Paulo Honório começou, então, a manipular as pessoas, criando uma falsa amizade com Luís Padilha, herdeiro da fazenda. Luís era um jovem boêmio, apaixonado por jogos, bebidas e mulheres. Paulo, que já sabia de seus pontos fracos, ganhou facilmente a confiança dele.

Aproveitando-se da inexperiência de Luís Padilha, ele o incentivou a investir em projetos pouco seguros financeiramente. Paulo Honório fazia tudo com a intenção levar Luís à falência para que pudesse comprar a fazenda. Seu plano deu certo e ele acabou adquirindo as terras por um valor muito baixo.

Paulo Honório contou com a ajuda de Casimiro Lopes, seu amigo, para matar Mendonça, que era o fazendeiro vizinho, para que pudesse expandir sua propriedade. Depois do assassinato, a fazenda São Bernardo ficou ainda maior.

Honório pegou dinheiro emprestado, comprou o maquinário para as plantações e construiu estradas para escoar seus produtos. Cada vez mais dedicado ao trabalho e ao intuito de enriquecer, ele cometeu muitos erros e injustiças, utilizando qualquer meio para conseguir seus objetivos e saindo impune por conta de sua rede de relacionamentos.

Seus principais parceiros eram o advogado Nogueira, que manipulava os políticos locais, o jornalista Godim, que sempre concedia favores a quem pagasse mais, e o padre Silvestre, que protegia quem doasse boas quantias de dinheiro para a igreja.

Quando percebeu que seus negócios estavam em alta, Paulo Honório contratou Ribeiro para cuidar da contabilidade da fazenda. Então, ele decidiu construir uma escola e alfabetizar os empregados. Suas intenções, entretanto, eram políticas, pois queria agradar o governador de Alagoas.

Paulo Honório mandou buscar a mulher que o criou, a velha Margarida, e a chamou para trabalhar na fazenda em troca de casa e comida. Como todo homem rico, ele pensava em ter seus herdeiros. Considerava um casamento com uma das irmãs ou filhas de seus amigos, mas não encontrou nenhuma de seu agrado.

Um dia, visitando o juiz Magalhães, ele conheceu a professora Maria Madalena. Ela acabou se casando com Paulo Honório e se mudou para a fazenda, levando consigo sua tia Glória. Com o passar do tempo, a rotina da fazenda começou a mudar por conta da presença da esposa, pois Madalena se interessava pela condição de vida dos empregados do local. Então, exigiu do marido uma compra de materiais para a escola da fazenda e passou a dividir as tarefas contábeis com Ribeiro.

Madalena era vista por Paulo Honório como uma mulher tradicional de sua época, ou seja, moralista, frágil, uma dona de casa. O marido começou a ficar incomodado com as atitudes de Madalena, o que gerou muitos desentendimentos e brigas.

Paulo Honório, sem conseguir a submissão da esposa, ficou cada vez mais agressivo com todos, o que não diminuiu nem com o nascimento do primeiro filho. Uma noite, o casal recebeu a visita do juiz Magalhães, que teve uma conversa animada com Madalena. Paulo Honório ficou enfurecido de ciúmes e começou se comparar com o juiz, chegando à conclusão, em seus delírios, de que seria impossível Maria Madalena resistir aos encantos do magistrado.

Logo pela manhã, Honório encontrou sua esposa abatida, escrevendo uma carta para Godim. Ele se descontrolou e exigiu explicações. Ela também se descontrolou, rasgou a carta e o chamou de assassino.

A paranoia tomou conta de Paulo Honório, que ouvia passos imaginários durante a noite, tinha delírios e pensava na infidelidade da esposa. Madalena, cada vez mais solitária e humilhada, perdeu o interesse pela vida e até mesmo pelo seu filho.

Paulo Honório avistou Madalena escrevendo uma carta e foi tomado pelo ódio e pelo ciúme, pois ele tinha certeza de que a carta se endereçava a um homem com quem Madalena teria um caso.

Honório saiu de casa atormentado, procurou a esposa e a encontrou na igreja com uma aparência tranquila. Ele exigiu explicações e ela, por sua vez, apenas disse que o restante das folhas estava no escritório dele. Então, ela pediu desculpas a todos os presentes pelo ocorrido e disse que o ciúme acabara com a vida dos dois. Honório nem voltou para a fazenda, passando a noite inteira sozinho sentado no banco da sacristia.

Quando Honório chegou na manhã seguinte, ouviu gritos e percebeu que Madalena havia se suicidado. Ela deixou em cima da bancada uma carta de despedida, escrita especialmente para seu marido, da qual faltava apenas uma página, aquela que ele havia encontrado no dia anterior.

Após a morte de Madalena, Glória e Ribeiro deixaram a fazenda. Luís Padilha foi lutar na Revolução de 1930. O juiz Magalhães foi  afastado do cargo e os limites da fazenda foram contestados. Com tudo isso, Paulo Honório se encontrou abandonado.

Finalmente, ele escreve sua narrativa. Amargurado pelo passado, toma consciência da desumanização por que passou enfrentando a seca. Incapaz de mudar, Paulo Honório busca algum sentido para a sua vida.

Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencionados, eu haja procedido invariavelmente com segurança e percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não, senhor, não procedi nem percorri. Tive abatimentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que andei mal? A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de São Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las.

Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Vieram-me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram. E os negócios desdobraram-se automaticamente. Automaticamente. Difícil? Nada! Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços.

Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as tolices que praticarem viram sabedoria. Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca e engolem tudo.

Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tentativas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes.

Estrutura da obra

São Bernardo, de Graciliano Ramos, possui cerca de 170 páginas, a depender da edição, divididas em 36 capítulos. O enredo é baseado em lembranças do narrador, Paulo Honório, que conta sua história de vida de forma cronológica quando volta ao passado, no início da narrativa.

Contexto histórico

O autor compõe uma trama que tem como pano de fundo a situação dramática do Nordeste brasileiro, afetado por secas catastróficas nas primeiras décadas do século XX. Esses fenômenos ocasionaram pobreza generalizada e fortes ondas de migração. Além disso, ainda temos a menção ao início da Revolução de 1930, outro fato histórico importante.

Notas sobre o autor

Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892. Na juventude, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista. Em 1915, casou-se com Maria Augusta de Barros, que faleceu em 1920, deixando quatro filhos.

Ainda como prefeito de uma cidade interiorana, lançou seu primeiro livro, Caetés (1933), com o qual ganhou o Prêmio Brasil de Literatura. Entre 1930 e 1936, morou em Maceió e publicou diversas obras enquanto trabalhava na Instrução Pública do Estado.

Foi preso político do governo de Getúlio Vagas enquanto se preparava para lançar Angústia, o que conseguiu com a ajuda de José Lins do Rego em 1936. Em 1945, filiou-se ao Partido Comunista do Brasil e viajou para a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e outros países, o que resultaria no livro Viagem (1954).

Membro da segunda geração modernista, Graciliano Ramos escreveu sobre o sofrimento do povo brasileiro, principalmente sobre a miséria causada pela seca. Ele faleceu de câncer de pulmão em 20 de março de 1953, aos 60 anos.

Suas principais obras são Caetés (1933), São Bernardo (1934), Angústia (1936), Vidas Secas (1938), Infância (1945), Insônia (1947) e Memórias do Cárcere (1953).

Relevância da obra

São Bernardo, de Graciliano Ramos, é de extrema importância para a segunda fase do Modernismo por conta da sua temática regionalista e por compor o Clico da Seca ao lado de títulos como O Quinze, de Rachel de Queiroz; A Bagaceira, de José Américo de Almeida; Menino de Engenho, de José Lins do Rego; Vidas Secas, também de Graciliano Ramos; entre outros.

Demorei-me um instante vendo um casal de papa-capins namorando escandalosamente. Uma galinhagem desgraçada. Dentro de alguns dias aquilo se descasava, cada qual tomava seu rumo, sem dar explicações a ninguém. Que sorte!

E dirigi-me a casa. No alpendre Madalena, Padilha, Dona Glória e Seu Ribeiro conversavam. Com a minha chegada calaram-se. Puxei uma cadeira e sentei-me longe deles. Era possível que a palestra não me interessasse, mas  suspeitei que estivessem falando mal de mim. Provavelmente. Dona Glória sempre com segredinhos ao ouvido de Seu Ribeiro. E Madalena escutando o Padilha. O Padilha, que tinha uma alma baixa, na opinião dela. Para o inferno. Tão bom era um como o outro. Entretidos, animados. Conspiração. Talvez não fosse nada. Mas para quem, como eu, andava com a pulga atrás da orelha! Aborrecia.

Estavam constrangidos, certamente adivinhando o que eu pensava. Padilha mastigava com os dentes estragados o sorriso servil. Levantei-me, encostei-me à balaustrada e comecei a encher o cachimbo, voltando-me para fora, que
no interior da minha casa tudo era desagradável.

No fim do pátio um moleque passou, com um bodoque na mão. Estava ali para que servia a escola. Vadiando, matando passarinhos, num dia de descanso, bom para soletrar a cartilha e riscar papel.

Seis contos de tábuas, mapas, quadros e outros enfeites de parede. Seis contos!

Carrancudo, olhei de esguelha para Madalena, que ficou sossegada, como se aquilo não tivesse sido feito por ela.

Acendi o cachimbo, furiosamente, e procurei distrair-me.

Foco narrativo, narrador e linguagem

O foco narrativo da obra é em primeira pessoa do singular, já que o narrador tece a trama por meio das memórias de seu passado amargurado. Isso faz com que o narrador seja considerado autodiegético, ou seja, aquele que conta a própria história, da qual é o protagonista.

Além disso, a utilização dos flashbacks faz com que a obra se destaque entre as demais de sua época, sendo uma das poucas que trabalha com os aspectos psicológicos dos personagens. A linguagem de São Bernardo, como de costume no Modernismo, é carregada de gírias, expressões  idiomáticas regionais e marcas da oralidade, presentes também na voz do narrador.

Tempo e espaço

O espaço onde se passa a obra São Bernardo, de Graciliano Ramos, é o interior de Alagoas, fazendo menção a lugares próximos do local onde o autor nasceu, a cidade de Quebrangulo.

Em relação ao tempo, ele é considerado psicológico, ou seja, por ser uma narrativa de memórias, o tempo se passa de acordo com as lembranças do personagem que, mesmo narradas de forma cronológica, não ocorrem no momento da narração.

Análise dos principais personagens

Os principais personagens de São Bernardo, de Graciliano Ramos, são:

Paulo Honório

Protagonista da obra e narrador, Paulo Honório decide colocar no papel suas memórias da vida amargurada que teve. É caracterizado como um homem rude, violento, ciumento e sem escrúpulos, capaz de cometer atrocidades por conta do desejo de se tornar rico.

Madalena

Par romântico do personagem principal, Madalena é caraterizada como uma professora do primário que foi criada pela tia, sendo inteligente, gentil e bonita. Após se casar com Paulo Honório, ela se mostra contestadora e passa a querer consertar as injustiças que o marido cometia na fazenda. Dessa maneira, começam as brigas do casal e o ciúme doentio de Paulo, fatos que levam Madalena ao suicídio.

Quando dei acordo de mim, a vela estava apagada e o luar, que eu não tinha visto nascer, entrava pela janela. A porta continuava a ranger, o nordeste atirava para dentro da sacristia folhas secas, que farfalhavam no chão de ladrilhos brancos e pretos. O relógio tinha parado, mas julgo que dormi horas. Galos cantaram, a lua deitou-se, o vento se cansou de gritar à toa e a luz da madrugada veio brincar com as imagens do oratório. Ergui-me, o espinhaço doído da posição incômoda. Estirei os braços. Moído, como se tivesse levado uma surra.

Saí, dirigi-me ao curral, bebi um copo de leite. Conversei um instante com Marciano sobre as corujas. Em seguida fui passear no pátio, esperando que o dia clareasse de todo. Realmente a mata, enfeitada de paus-d’arco, estava uma beleza.

Três anos de casado. Fazia exatamente um ano que tinha começado o diabo do ciúme.

A serraria apitou; as suíças de Seu Ribeiro surgiram a uma janela; Maria das Dores abriu as portas; Casimiro Lopes apareceu com uma braçada de hortaliças.

Desci ao açude. Derreado, as cadeiras doendo. Que noite! Despi-me entre as bananeiras, meti-me na água, mergulhei e nadei.

Quando cheguei a casa, o sol já estava alto. O espinhaço ainda me doía. Que noite!

Subindo os degraus da calçada, ouvi gritos horríveis lá dentro.

E então? Gostou do nosso resumo de São Bernardo, de Graciliano Ramos? Leia também:

Até a próxima!

Deixe um comentário

© 2012-2019 Canal do Ensino | Guia de Educação

Voltar para o topo