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Resumo de livro: Quincas Borba, de Machado de Assis

Olá, leitor!

A obra Quincas Borba, de Machado de Assis, foi publicada entre 16 de julho de 1886 e 15 de setembro de 1891, na revista A Estação. O enredo é tido como uma história paralela a Memórias Póstumas de Brás Cubas, romance anterior do mesmo autor que introduziu o Realismo no Brasil. Juntos, Quincas Borba, Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas formam a tríade realista machadiana.

“ – Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.”

Resumo do livro

Quincas Borba

Fonte: Canal do Ensino

Quincas Borba vive em Barbacena, uma cidade de Minas Gerais. Lá, leva uma vida bem confortável, tendo Rubião como enfermeiro e discípulo, um antigo professor de primário, um homem modesto de inteligência limitada. Rubião não consegue de forma alguma aprender o Humanitismo, teoria de Quincas que defende a vitória dos mais fortes sobre os mais fracos.

Quando Borba morre, deixa toda a sua fortuna para Rubião, com a condição de que ele cuidasse do cachorro que também tinha o nome de Quincas Borba.

Rubião, então, se muda para o Rio de Janeiro e conhece o casal Cristiano e Sofia Palha na estação de Vassouras (RJ). Eles percebem quão ingênuo Rubião é e, aos poucos, começam a administrar sua fortuna, dizendo que pretendem impedir a aproximação de pessoas mal-intencionadas.

Rubião se apaixona por Sofia, o que facilita a sua aproximação. Acreditando ser correspondido, ele declara seu amor durante um baile. Sofia, ofendida, comenta sobre a situação com seu marido. Tentando diminuir a ira de sua esposa, Cristiano diz que tem dívidas com Rubião, sugerindo a ela que alimente aquele sentimento para que possam continuar a ter as regalias vindas de sua amizade com um milionário.

Depois de muitas tentativas amorosas frustradas, Rubião decide deixar o Rio de Janeiro. Isso preocupa muito Cristiano, já que ele era sua principal fonte de renda.

Palha insiste para que o amigo fique. Um político chamado Camacho surge e, interessado em sua fortuna, também tenta fazer com que Rubião continue no Rio de Janeiro. Convencido, ele decide ficar na cidade.

Cristiano e Rubião tornam-se sócios de uma importadora chamada Palha e Cia. Com o tempo, o capitalista passa a administrar todos os bens do milionário. A condição de vida do casal Palha melhora rapidamente.

Rubião continua a frequentar a casa deles e começa a nutrir ciúmes de um jovem chamado Carlos Maria, que dirige gracejos a Sofia. Certo dia, Rubião chega a gritar com Sofia, insinuando um adultério. Mas ela prova inocência, confirmando o casamento de Carlos Maria com sua prima, Maria Benedita.

Cristiano rompe sua sociedade com Rubião, alegando a necessidade de desligar-se da empresa com o propósito de capacitar-se a assumir cargos no sistema financeiro. Na verdade, ele quer continuar a conduzir a companhia sozinho. A partir de então, Sofia também se afasta de Rubião, recusando seus insistentes convites.

Enlouquecido de desejo, Rubião visita mais uma vez a amada. Quando ele diz ser Napoleão III, Sofia percebe sua demência. A notícia se espalha pela cidade. Seus delírios só aumentam, enquanto seu patrimônio diminui. Por insistência de próximos, os Palha assumem a responsabilidade de cuidar do doente.

Como primeira medida, transferem-no para uma casa mais humilde. A loucura de Rubião só aumenta e ele acaba sendo internado. Rubião foge e volta para Barbacena com o cão Quincas Borba, mas ninguém os recebe e os dois acabam dormindo na rua. Rubião morre, ainda acreditando ser o imperador francês Napoleão III.

“Rubião ia concordando, ouvindo, sorrindo; contava a cena a alguns curiosos, que a queriam da própria boca do autor. Certos ouvintes respondiam com proezas suas,- um que salvara uma vez um homem, outro uma menina, prestes a afogar-se no Boqueirão do Passeio, estando a tomar banho. Vinham também suicídios malogrados, por intervenção do ouvinte, que tomou a pistola ao infeliz e fê-lo jurar. . . Cada gloriazinha oculta picava o ovo, e punha a cabeça de fora, olho aberto, sem penas, em volta da glória máxima do Rubião. Também teve invejosos, alguns que nem o conheciam, só por ouvi-lo louvar em voz alta. Rubião foi agradecer a notícia ao Camacho, não sem alguma censura pelo abuso de confiança, mas uma censura mole, ao canto da boca. Dali foi comprar uns tantos exemplares da folha para os amigos de Barbacena.”

Estrutura da obra

A obra traz de 120 a 150 páginas, a depender da edição, distribuídas em duzentos e um capítulos dos mais variados tamanhos, com predominância dos curtos, como é próprio da escrita de Machado de Assis.

Sobre o autor

Machado de Assis está associado ao Realismo Brasileiro. E com razão, a busca pela verdade sempre foi um dos traços mais marcantes de sua obra.

Para os realistas, tal verdade poderia ser alcançada pelos recursos da Ciência, do Determinismo, Positivismo, Evolucionismo. Contudo, Machado de Assis foi mais longe, questionando até mesmo os pilares de sua escola literária. O Humanitismo presente em Quincas Borba, por exemplo, é uma paródia do culto cego à razão tão comum no final do século XIX.

Relevância da obra

Quincas Borba não é o romance mais conhecido de Machado de Assis. Esse posto é disputado por Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Diferentemente do que acontece nessas obras, em Quincas Borba, o narrador apresenta-se em 3ª pessoa, mas não é por isso que deixa de questionar a realidade, algo típico do autor e importante no final do século XIX, época de intensa transformação na sociedade brasileira.

“Tinham-lhe feito uma lenda. Diziam-no discípulo de um grande filósofo, que lhe legara imensos bens, um, três, cinco mil contos. Estranhavam alguns que ele não tratasse nunca de filosofia, mas a lenda explicava esse silêncio pelo próprio método filosófico do mestre, que consistia em ensinar somente aos homens de boa vontade. Onde estavam esses discípulos? Iam à casa dele, todos os dias, alguns duas vezes, de manhã e de tarde; e assim ficavam definidos os comensais. Não seriam discípulos, mas eram de boa vontade. Roíam fome, à espera, e ouviam calados e risonhos os discursos do anfitrião. Entre os antigos e os novos, houve tal ou qual rivalidade que os primeiros acentuaram bem, mostrando maior intimidade, dando ordens aos criados, pedindo charutos, indo ao interior, assobiando etc. Mas o costume os fez suportáveis entre si, e todos acabaram na doce e comum confissão das qualidades do dono da casa. Ao cabo de algum tempo, também os novos lhe deviam dinheiro, ou em espécie, ou em fiança no alfaiate, ou endosso de letras, que ele pagava às escondidas, para não vexar os devedores. Quincas Borba andava ao colo de todos. Davam estalinhos, para vê-lo saltar; alguns chegavam a beijar-lhe a testa; um deles, mais hábil, achou modo de o ter à mesa, ao jantar ou almoço, sobre as pernas, para lhe dar migalhas de pão.”

Personagens da obra

 Os principais personagens de Quincas Borba são:

 Rubião

Personagem principal do romance. Um homem humilde que se muda para a cidade grande após receber uma herança. Contudo, sua inocência acaba fazendo com que ele seja enganado por outras pessoas, que sempre querem tirar proveito de sua fortuna.

Quincas Borba

O amigo que deixa a grande fortuna para Rubião, com a condição de que ele cuide de seu cão, também chamado Quincas Borba. É curioso perceber que esse personagem praticamente previu o que aconteceria com Rubião, por meio da filosofia do Humanitismo.

Sendo assim, pode-se dizer que, mesmo tendo morrido logo no início da história, Quincas Borba é de grande importância.

Quincas Borba – cão

Outro personagem importante na história. A herança deixada pelo amigo de Rubião foi também para o cachorro; o antigo professor apenas assumiu a tarefa de ser responsável pela vida do animal.

Sofia

Personagem feminina. Aproveita-se dos sentimentos de Rubião para roubar o dinheiro do moço. Apesar de desprezá-lo, Sofia aproxima-se dele para conseguir as coisas que deseja. Ela é a responsável pela loucura de Rubião, devido ao amor não correspondido.

Cristiano

Personagem que também explora Rubião e sua fortuna. Utiliza-se de sua mulher para poder controlar as finanças do amigo, ou seja, chega a oferecer a esposa como uma espécie de moeda de troca por causa de dinheiro.

Isso evidencia uma ironia. Mesmo que Sofia explorasse Rubião para obter seus caprichos, de uma forma mais sútil, ela era usada por Cristiano para conseguir aquilo que queria.

Análise da obra

O romance Quincas Borba gira em torno das relações sociais. Rubião não é uma caricatura do caipira que é enganado na cidade grande. Sua amizade com Quincas Borba também tinha interesse. Para herdar os bens do falecido, ele cuidaria do cachorro. Tais circunstâncias deixam claro que Rubião não era tão inocente.

Sofia e Cristiano são representados como verdadeiras paródias da crença romântica na sociedade burguesa. Cristiano é um falso amigo, enquanto Sofia usa seu poder de sedução para que o marido explore o milionário de forma constante.

A temática da traição é muito presente nas obras de Machado de Assis. Nesse caso, mesmo sem ser consumada, é insinuada pelo interesse que Sofia demonstra pelos homens que a cortejam, como Carlos Maria e o próprio Rubião.

Conforme o desenrolar do enredo, também são levantadas as razões pelas quais o título do livro é Quincas Borba. Seria uma referência ao filósofo que morre logo no começo ou ao cão que fica com a herança?

Na verdade, a referência é aos dois. A filosofia de Quincas Borba, Humanitismo, diz o seguinte: o princípio da existência que se manifesta em todo ser vivente também pode se manifestar em um cão. Possivelmente, está aí a verdadeira razão para o nome do livro.

A história do professor Rubião confirma a teoria de Borba. O casal Palha não faz nada além de seguir a máxima de que o Humanitismo é real e se manifesta no cotidiano das pessoas, alimentando-se da fortuna de Rubião até pouco antes de sua morte.

Por outro lado, o antigo professor é derrotado por representar o oposto dessa filosofia. Nada em sua vida foi conquistado com mérito, mas pelo acaso. Rubião é a confirmação da pessoa que acreditou excessivamente no destino e morreu pensando ser o imperador.

“Rubião tinha febre. Comeu pouco e sem vontade. A comadre pediu-lhe contas da vida que passara na Corte, ao que ele respondeu que levaria muito tempo, e só a posteridade a acabaria. Os sobrinhos de seu sobrinho, concluiu ele magnificamente, que hão de ver-me em toda a minha glória. Começou, porém, um resumo. No fim de dez minutos, a comadre não entendia nada, tão desconcertados eram os fatos e os conceitos; mais cinco minutos, entrou a sentir medo. Quando os minutos chegaram a vinte, pediu licença e foi a uma vizinha dizer que Rubião parecia ter virado o juízo. Voltou com ela e um irmão, que se demorou pouco tempo e saiu a espalhar a nova. Vieram vindo outras pessoas, às duas e às quatro, e, antes de uma hora, muita gente espiava da rua.

– Ao vencedor, as batatas! – bradava Rubião aos curiosos. Aqui estou imperador! Ao vencedor, as batatas!

Esta palavra obscura e incompleta era repetida na rua, examinada, sem que lhe dessem com o sentido. Alguns antigos desafetos do Rubião iam entrando, sem cerimônia, para gozá-lo melhor; e diziam à comadre que não lhe convinha ficar com um doido em casa, era perigoso; devia mandá-lo para a cadeia, até que a autoridade o remetesse para outra parte. Pessoa mais compassiva lembrou a conveniência de chamar o doutor.”

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Leia também os resumos dos outros romances da tríade machadiana:

Até logo!

comentários (2)

  • Denis

    Parabéns pela análise dessa obra-prima nacional, que demonstra ainda o quanto estamos estagnados em nossas relações sociais. Abraço.

    Responder
    • Ariovania Silva

      Olá, Denis!
      Ficamos felizes em poder ajudá-lo!

      Continue acompanhando o Canal da Educação, temos muitas dicas de leitura e cursos grátis para você!

      Um forte abraço,
      Canal do Ensino.

      Responder

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