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Paulo Freire: saiba mais sobre o educador em seu centenário

Olá, leitor! 

Há 100 anos, em setembro de 1921, nascia o educador, escritor e filósofo Paulo Freire. Com cerca de 30 livros publicados e mais de 40 títulos honoríficos concedidos por instituições de ensino ao redor do mundo, Freire coleciona homenagens, defensores e críticos. No centenário do educador, sua trajetória, seu método e seu legado devem ser lembrados.  

Biografia

Paulo Reglus Neves Freire nasceu no Recife, em 19 de setembro de 1921. Aos 22 anos, ingressou na Faculdade de Direito do Recife, mas nunca exerceu a profissão. Poucos anos depois, em 1947, ele assumiu o cargo de diretor de educação do Serviço Social da Indústria (Sesi), no Recife.  

Nos anos seguintes, concluiu o doutorado em Filosofia e História da Educação e se tornou professor universitário. Na década de 1960, fez parte de movimentos populares de alfabetização. Em 1963, ocorreu a famosa experiência em Angicos, no Rio Grande do Norte, na qual um grupo de professores coordenado por Freire alfabetizou mais de 300 adultos em 40 horas. 

Nessa época, ele também propôs o Plano Nacional de Alfabetização para o governo de João Goulart, com o objetivo alfabetizar 5 milhões de pessoas. Como o início do regime militar, em 1964, o educador foi preso e exilado. Passou por diversos países e, quando estava no Chile, escreveu, em 1968, Pedagogia do Oprimido, sua obra mais famosa. No ano seguinte, foi convidado para lecionar na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos 

Ao longo do exílio, coordenou projetos de educação em diversos países, como Cabo Verde, Zâmbia e Moçambique. Voltou ao Brasil em 1980, devido à Lei da Anistia, e lecionou na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). De 1989 a 1991, atuou como secretário da educação da cidade de São Paulo 

Em 1986, ele foi laureado com o Prêmio UNESCO da Educação para a Paz; seis anos depois, com o Prêmio Andrés Bello como Educador do Continente, concedido pela Organização dos Estados Americanos. Em 1993, recebeu o título de Grão-Mestre da Ordem Nacional do Mérito Educativo do Ministério da Educação e Cultura do Brasil. Paulo Freire faleceu poucos anos depois, em 1997, por conta de problemas cardíacos; em 2012, foi nomeado Patrono da Educação Brasileira. 

Paulo Freire: saiba mais sobre o educador em seu centenário

Fonte: Canal do Ensino

Método

Ao desenvolver seu método, Paulo Freire foi contra o que definiu como educação bancária, na qual os alunos apenas recebiam o conhecimento transmitido pelo professor. Para ele, a educação era uma atividade pautada no diálogo. 

Freire desenvolveu a pedagogia do afeto. De acordo com esse conceito, o aluno também tinha um saber, um conhecimento, que não estava nem abaixo, nem acima do detido pelo professor. Por isso, o docente precisava estar aberto para aprender e criar um ambiente democrático no qual todos pudessem se expressar, dialogar e crescer em conjunto. 

Logo, a ideia do educador era partir da realidade e dos conhecimentos prévios do aluno para ensinar. Uma das experiências mais famosas do método de Freire foi a alfabetização de 300 adultos em Angicos, no Rio Grande do Norte, em 1963. Lá, ele comandou um grupo de professores que conduziu o letramento dos estudantes em menos de 40 horas. 

A partir de conversas preparatórias, foram selecionadas 17 palavras geradoras, que faziam parte do dia a dia dos alunos e continham todos os fonemas da língua portuguesa. A grande mudança foi não utilizar as cartilhas de alfabetização infantil no letramento dos adultos. Esses materiais eram baseados na aprendizagem fônica (por meio dos sons das palavras), mas continham frases que não dialogavam com a vida dos alunos, como “Eva viu a uva”. 

Apesar dessas experiências de sucesso, seu método não desejava ser unânime. Freire defendia que a educação devia tomar como base a realidade de cada aluno, de cada comunidade. Para ele, o ensino e a aprendizagem passavam por três momentos. Primeiro, o professor precisava se familiarizar com os conhecimentos prévios dos alunos. Depois, era a hora de explorar os temas e conteúdos em discussão. Por fim, devia-se ir para a problematização do que foi trabalhado e buscar soluções práticas para os desafios levantados. 

Para Paulo Freire, o grande objetivo da educação era, por meio do diálogo, despertar a curiosidade, a criatividade, a inquietação nos alunos. Assim, eles seriam capazes de construir uma visão crítica, compreendendo o funcionamento do mundo e agindo para melhorá-lo. 

Legado

Mesmo para seus críticos, Paulo Freire se tornou um marco na educação. Recebeu diversas homenagens em mais de 40 universidades ao redor do mundo, incluindo as Universidades de Harvard, Cambridge e Oxford. Mais de 350 instituições de ensino levam seu nome, em países como Finlândia, Áustria, África do Sul, Holanda, Portugal, Inglaterra, Estados Unidos e Canadá. 

Segundo um levantamento realizado em 2016 por Elliott Green, professor da London School of Economics, Pedagogia do Oprimido é a terceira obra mais citada do mundo em trabalhos de ciências humanas. Na época, contava como 72.359 menções.  

Apesar de nunca ter sido aplicado em massa no território do Brasil, algumas instituições de ensino seguem as ideias de Paulo Freire, como Revere High School, em Massachusetts, que foi considerada a melhor instituição pública de ensino médio dos Estados Unidos em 2014. 

Suas ideias também podem ser usadas para encarar os desafios educacionais gerados pela pandemia de Covid-19. Segundo Fabio Campos, educador e pesquisador da Universidade de Nova York que falou no evento Educação 360° de 2021, não há época melhor para ler Paulo Freire. “Freire falava de conscientização em situações-limites, que são aquelas que geram análises e problematizações. Algumas situações-limites citadas por ele permanecem até hoje, como os ataques à democracia, o analfabetismo, a educação bancária e a comunicação em massa.” 

Campos foi além, afirmando que, no contexto atual, é fundamental trabalhar com a escola paralela, definida por Freire como os aprendizados do mundo fora da sala de aula. “Se o professor fecha a conexão com o mundo fora da sala, aumenta o abismo entre ele e o aluno. Freire falava que a escola paralela devia ser abordada com criticidade. Hoje, é muito necessário dar fluência crítica para o aluno navegar no mundo em que vive.” 

No mesmo evento, Carolina Campos, fundadora da consultoria Vozes da Educação, que visa a melhorar a qualidade do ensino básico no Brasil, comentou que, no contexto pós-pandemia, a educação precisa estar, mais do que nunca, ligada à realidade dos alunos e dos professores, e que a construção do saber de forma conjunta deve ser priorizada.  

Para ela, aprender seu papel no mundo e pensar sobre ele é o cerne da educação. “Paulo Freire faz as pessoas refletirem sobre sua posição no mundo. Para mim, perguntar ‘quem eu sou e qual meu papel no mundo’ é a base da educação e a base da educação é política, não necessariamente partidária.” 

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