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Os tablets na sala de aula

As universidades descobriram que o aparelhinho mais cobiçado do momento é um bom aliado para atrair alunos, e por isso fazem acordos para colocar conteúdo de livros didáticos nesses equipamentos

Por Cristiano Zaia

O estudante Rafael Marchette Reis, 21 anos, morador de São Paulo, ficou entusiasmado com uma promoção diferente que viu em um site. O canal virtual Quero Tablet, criado pela Faculdade Paulista de Pesquisa e Ensino Superior (Fappes),  prometia presentear com  um tablet os alunos que se matriculassem no curso de administração no segundo semestre. Reis se inscreveu para aulas no período noturno e ainda convenceu outros quatro colegas a se transferir para o curso da Fappes – tudo por causa do tablet, um modelo Coby Kyros, da fabricante internacional Coby. O aparelho será emprestado por um ano. Depois desse prazo, o universitário ficará de vez com o aparelho se continuar no curso. A promoção já garantiu à Fappes 175 novas matrículas, mas a faculdade quer mais.

A intenção é entregar o tablet a mil alunos nos próximos 12 meses. Com essa promoção, a instituição pretende reduzir a inadimplência de 25% para 5% e a evasão, dos atuais 30% para 10%. Se ainda estão engatinhando nas escolas de educação básica, nas instituições de nível superior o uso das tábuas digitais já está se tornando corriqueiro. “Dentro de cinco anos, os tablets serão praticamente obrigatórios no terceiro grau”, diz o diretor-geral da Fappes, Leandro Berchielli. Enquanto as universidades federais continuam com o velho e bom caderninho de anotações, a estratégia de presentear os alunos com a sensação tecnológica do momento também foi adotada por outras escolas particulares, especialmente nas áreas de administração e direito.

Um exemplo é a Universidade Gama Filho, do Rio de Janeiro, que vai doar tablets aos alunos de alguns cursos de graduação, que se formarão em agosto. O Ibmec, conhecido por seus cursos de pós-graduação e MBA em negócios e finanças, estuda a adoção dos tablets, ainda neste segundo semestre. Já a Fundação Getulio Vargas (FGV) não pretende dar as maquininhas aos estudantes. “Praticamente 100% dos nossos alunos já têm esse equipamento’, diz o diretor-executivo da FGV Online, Stavros Xanthopoylos. “O plano é deixar o conteúdo didático disponível para todo tipo de tela de computadores, notebooks, netbooks e tablets.” 

Apesar de não saber exatamente quando essa estratégia será colocada em prática, de uma coisa o executivo não tem dúvida: é inegável o ganho de economia com conteúdo impresso que o mercado de educação superior terá com os tablets. No caso da Fappes,  estima-se que seus custos com compra de material em papel devam cair em até 40%. O uso mais abrangente da nova plataforma esbarra, no entanto, na falta de obras didáticas específicas para esse meio. É por isso que um consórcio, formado por 35 editoras ligadas à Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR), está adaptando trechos de livros para tablets.

Em outras palavras, estão substituindo o velho expediente de tirar xerox de capítulos por uma roupagem mais tecnológica – e econômica. O projeto, batizado de Pasta do Professor, começou com a Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro. Em agosto, a instituição começará a distribuir seis mil tablets myPad, da Semp Toshiba, com e-books produzidos por essas editoras. O aparelho será utilizado pelo aluno e devolvido ao final da graduação. A iniciativa visa diminuir os custos com impressões, uma vez que a universidade utiliza apostilas em seus cursos. Em média, a Estácio imprime 240 milhões de páginas por ano. Para usar os materiais desenvolvidos por editoras como Saraiva, Atlas, Scipione, Moderna, Companhia das Letras e Ática, os alunos terão acesso à rede wi-fi da universidade e a um modem móvel da operadora Claro, gratuito apenas para uso de conteúdos educacionais da Pasta do Professor.

“Nossa ideia foi migrar o conteúdo do livro de papel para o tablet, fornecendo todo o material necessário para acompanhar as aulas”, afirma Pedro Graça, diretor de marketing da Estácio de Sá. Outras escolas, como a Tiradentes, em Sergipe, e Coppead/UFRJ, já estudam aderir ao mesmo projeto. A presença dos tablets no ensino superior tende a aumentar conforme o mercado desses produtos cresça no Brasil. E, se depender das projeções, o futuro é promissor. A consultoria especializada em tecnologia IDC estima que sejam vendidas 400 mil unidades no Brasil em 2011, quase quatro vezes mais do que os 110 mil comercializados no ano passado.

O preço também deve cair nos próximos meses, a partir da produção no Brasil de alguns modelos, como o iPad, da Apple, e da inclusão dos tablets na lista de equipamentos beneficiados pela Medida Provisória 534, conhecida como MP dos Tablets. O governo espera que seja possível reduzir em até 36% o valor dos tablets. A transferência do conteúdo do papel para o meio eletrônico agrada a universidades e alunos e abre um novo mercado para as editoras, um setor que, em princípio, poderia sair prejudicado com a nova tendência. Para não perderem negócios, no entanto, elas terão de investir em ferramentas digitais ou desenvolver parcerias com empresas de tecnologia especializadas em conteúdo educacional. A Editora Saraiva, que tem forte atuação no mercado de material didático universitário, já conta com títulos em e-books nas áreas de direito, economia, administração e contabilidade.

A editora fechou contratos de exclusividade com autores e terceirizou o serviço de adaptação do conteúdo editorial para a linguagem de software com a Vital Source, companhia de projetos educacionais virtuais. “Algumas editoras ainda estão temerosas de produzir conteúdo digital, porque ninguém sabe de fato se haverá retorno financeiro ou como será esse mercado daqui a cinco anos”, diz Flávia Helena Bravin, diretora editorial de livros universitários e de negócios da Editora Saraiva. Do lado dos fabricantes, as negociações com os produtores de conteúdo estão na ordem do dia. A Semp Toshiba, que por enquanto só tem o acordo com a Estácio de Sá, enxerga na aliança com o setor educacional um atalho para fazer o mercado de tablets deslanchar mais rapidamente.  “As instituições de ensino serão a porta de entrada de muitos consumidores para o mundo dos tablets”, afirma Nelson Scarpin, diretor de vendas da Semp Toshiba.

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