Os tablets na sala de aula
As universidades descobriram que o aparelhinho mais cobiçado do momento é um bom aliado para atrair alunos, e por isso fazem acordos para colocar conteúdo de livros didáticos nesses equipamentos
Por Cristiano Zaia
O estudante Rafael Marchette Reis, 21 anos, morador de São Paulo, ficou entusiasmado com uma promoção diferente que viu em um site. O canal virtual Quero Tablet, criado pela Faculdade Paulista de Pesquisa e Ensino Superior (Fappes), prometia presentear com um tablet os alunos que se matriculassem no curso de administração no segundo semestre. Reis se inscreveu para aulas no período noturno e ainda convenceu outros quatro colegas a se transferir para o curso da Fappes – tudo por causa do tablet, um modelo Coby Kyros, da fabricante internacional Coby. O aparelho será emprestado por um ano. Depois desse prazo, o universitário ficará de vez com o aparelho se continuar no curso. A promoção já garantiu à Fappes 175 novas matrículas, mas a faculdade quer mais.
Um exemplo é a Universidade Gama Filho, do Rio de Janeiro, que vai doar tablets aos alunos de alguns cursos de graduação, que se formarão em agosto. O Ibmec, conhecido por seus cursos de pós-graduação e MBA em negócios e finanças, estuda a adoção dos tablets, ainda neste segundo semestre. Já a Fundação Getulio Vargas (FGV) não pretende dar as maquininhas aos estudantes. “Praticamente 100% dos nossos alunos já têm esse equipamento’, diz o diretor-executivo da FGV Online, Stavros Xanthopoylos. “O plano é deixar o conteúdo didático disponível para todo tipo de tela de computadores, notebooks, netbooks e tablets.”
Em outras palavras, estão substituindo o velho expediente de tirar xerox de capítulos por uma roupagem mais tecnológica – e econômica. O projeto, batizado de Pasta do Professor, começou com a Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro. Em agosto, a instituição começará a distribuir seis mil tablets myPad, da Semp Toshiba, com e-books produzidos por essas editoras. O aparelho será utilizado pelo aluno e devolvido ao final da graduação. A iniciativa visa diminuir os custos com impressões, uma vez que a universidade utiliza apostilas em seus cursos. Em média, a Estácio imprime 240 milhões de páginas por ano. Para usar os materiais desenvolvidos por editoras como Saraiva, Atlas, Scipione, Moderna, Companhia das Letras e Ática, os alunos terão acesso à rede wi-fi da universidade e a um modem móvel da operadora Claro, gratuito apenas para uso de conteúdos educacionais da Pasta do Professor.
O preço também deve cair nos próximos meses, a partir da produção no Brasil de alguns modelos, como o iPad, da Apple, e da inclusão dos tablets na lista de equipamentos beneficiados pela Medida Provisória 534, conhecida como MP dos Tablets. O governo espera que seja possível reduzir em até 36% o valor dos tablets. A transferência do conteúdo do papel para o meio eletrônico agrada a universidades e alunos e abre um novo mercado para as editoras, um setor que, em princípio, poderia sair prejudicado com a nova tendência. Para não perderem negócios, no entanto, elas terão de investir em ferramentas digitais ou desenvolver parcerias com empresas de tecnologia especializadas em conteúdo educacional. A Editora Saraiva, que tem forte atuação no mercado de material didático universitário, já conta com títulos em e-books nas áreas de direito, economia, administração e contabilidade.