Orquestra traz Dom Quixote para o Brasil em espetáculo on-line gratuito

Olá, leitor(a)! 

Burros no lugar de cavalos, moinhos no lugar de gigantes, atendentes de taverna no lugar de princesas. Essas são algumas das confusões do mais famoso e atrapalhado cavaleiro: Dom Quixote, protagonista do romance homônimo de Miguel de Cervantes. A obra inspirou e inspira produções artísticas no mundo todo e agora é tema de um dos concertos da Orquestra de Câmara (OCAM) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).  

O espetáculo está disponível gratuitamente no YouTube e combina música, literatura e artes plásticas. A trama, escrita a partir das métricas da poesia popular brasileira, foi criada pelo estudante de pós-graduação Thiago Brisolla e traz como referências não apenas o clássico romance espanhol, mas também o Movimento Armorial. 

Qui-xote: a história interrompida de Dulcineia e senhor Miller

Quatrocentas e quarenta  

largas lágrimas de nós   

lançaram, das ruas, os Reis.  

Reis não há mais, somos sós,  

O que há é cicatriz de estrelas  

Ante colapso e após.  

Com versos que fazem alusão à pandemia e às vítimas de Covid-19 no Brasil, assim se inicia Qui-xote: a história interrompida de Dulcineia e senhor Miller, apresentação sinfônica regida por André Bachur, com texto original e narração de Thiago Brisolla. 

Diferentemente do que se pode esperar, o concerto traz a personagem Dulcineia — o grande amor imaginário de Dom Quixote — como protagonista. As influências do Movimento Armorial se dão justamente na mistura entre o erudito e a cultura popular nordestina, desde o “abrasileiramento” de personagens clássicos da literatura europeia ao uso simultâneo de instrumentos típicos da música popular brasileira e dos normalmente usados em orquestras.  

Dessa forma, as peças musicais vão sendo costuradas a partir do encontro conflituoso das histórias do senhor Miller, proprietário de uma funerária, e Dulcineia, dona de um bar de forró no andar de baixo do mesmo edifício. Os estabelecimentos, não por acaso, localizam-se exatamente na frente de um cemitério. Para conferir o espetáculo na íntegra, e saber o que acontece com essas duas distintas figuras, basta clicar neste link. 

Dom Quixote

Considerado um dos maiores clássicos da literatura mundial, Dom Quixote foi escrito no início do século XVII pelo espanhol Miguel de Cervantes. A obra foi alvo de diversas polêmicas na época, pois se tratava de uma sátira aos romances de cavalaria — que abordavam as aventuras de heroicos e incorruptíveis cavaleiros, donzelas indefesas, amores platônicos, belíssimas paisagens, entre outros elementos.   

As provocações do autor já iniciam no prefácio do livro, que tece, com muita ironia, críticas às pretensiosas estruturas literárias do período (recheadas de citações ou exibicionismo intelectual). Assim, Cervantes chamava atenção para o fato de que a obra (sua composição, sua história e seus personagens) é que deveria ser o mais importante.  

Em continuação, e parodiando os heróis romanescos, conhecemos a história de Dom Quixote de La Mancha: um fidalgo já em avançada idade que, apaixonado por romances de cavalaria, passa a confundir ficção e realidade. Batiza-se ele próprio como um cavaleiro real e sai em busca de aventuras com seu fiel escudeiro, Sancho Pança. A narrativa é marcada por muito humor, com cenas nada heroicas e a imaginária amante Dulcineia.  

Movimento Armorial

Com objetivos muito semelhantes ao Movimento Antropofágico da histórica Semana de Arte Moderna de 1922 — que uniu artistas de diferentes áreas em busca de uma produção que digerisse a arte estrangeira antes de replicá-la —, o Movimento Armorial construiu uma ponte entre a cultura popular, especialmente a nordestina, e a cultura erudita. 

Concebido pelo escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, em 1970, o Movimento reuniu cordelistas, instrumentistas, xilógrafos(as), ceramistas e mais. O evento de lançamento da proposta, que contou com exposições e concerto musical, aconteceu na Igreja de São Pedro dos Clérigos, em Recife. Enriquecendo inúmeras expressões artísticas, a vertente cultural criada pelo autor de Auto da Compadecida (1955) segue influenciando outras gerações de artistas.   

OCAM

A Orquestra de Câmara da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo foi fundada pelo Maestro Olivier Toni, em 1995. A organização, referenciada como uma das mais importantes unidades artísticas da USP, é composta por alunos(as) do Departamento de Música da ECA e dos cursos de extensão acadêmica. 

Tendo como diretor artístico e regente titular o Maestro Gil Jardim, a OCAM é responsável pela profissionalização de compositores, instrumentistas, regentes e maestros, servindo como uma espécie de laboratório de experimentação musical. Todo ano é feita nova seleção para ocupação das posições que integrarão a orquestra. Para saber mais, acesse aqui. 

Que tal aproveitar o fim de semana para curtir esse excelente espetáculo? Compartilhe o texto com os(as) amigos(as) e veja junto com eles(as)!  

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