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Resumo de livro: O Guarani, de José de Alencar

Olá, leitor!

O Guarani, de José de Alencar, foi lançado pela primeira vez em livro em 1857, mas a história já havia sido publicada em folhetins semanais no jornal Diário do Rio de Janeiro. O romance teve sucesso imediato e é considerado uma das obras mais importantes da primeira fase do Romantismo no Brasil.

A primeira geração dessa escola literária, conhecida como indianista, tinha os objetivos de resgatar a cultura brasileira e procurar a figura de um herói nacional, que acabou sendo representado por meio do índio. Assim, José de Alencar escreveu o livro pensando na construção de um herói ao mesmo tempo em que invocava as belezas naturais da nossa terra, com grande preocupação estética na descrição de cenários, objetos e personagens.

O autor utiliza o modelo de herói medieval da literatura europeia, mostrando o índio como uma figura valente, corajosa, justa, idealizada e tipicamente romântica. Contudo, ele também aborda assuntos nacionais, como, por exemplo, a relação entre colonizador e colonizado.

Aí, o Paquequer lança-se rápido sobre o seu leito, e atravessa as florestas como o tapir, espumando, deixando o pêlo esparso pelas pontas do rochedo, e enchendo a solidão com o estampido de sua carreira. De repente, falta-lhe o espaço, foge-lhe a terra; o soberbo rio recua um momento para concentrar as suas forças, e precipita-se de um só arremesso, como o tigre sobre a presa.

Depois, fatigado do esforço supremo, se estende sobre a terra, e adormece numa linda bacia que a natureza formou, e onde o recebe como em um leito de noiva, sob as cortinas de trepadeiras e flores agrestes.

A vegetação nessas paragens ostentava outrora todo o seu luxo e vigor; florestas virgens se estendiam ao longo das margens do rio, que corria no meio das arcarias de verdura e dos capitéis formados pelos leques das palmeiras. Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime artista, tinha decorado para os dramas majestosos dos elementos, em que o homem é apenas um simples comparsa.

No ano da graça de 1604, o lagar que acabamos de descrever estava deserto e inculto; a cidade do Rio de Janeiro tinha-se fundado havia menos de meio século, e a civilização não tivera tempo de penetrar o interior.

Entretanto, via-se à margem direita do rio uma casa larga e espaçosa, construída sobre uma eminência, e protegida de todos os lados por uma muralha de rocha cortada a pique.

Resumo da obra

O Guarani, José de Alencar

Fonte: Reprodução

O romance começa no ano de 1604, ou seja, no início do século XVII. Logo na primeira parte da obra, o narrador nos apresenta D. Antônio Mariz, português que participou da fundação da cidade do Rio de Janeiro, em 1567, e pai da mocinha e heroína, Cecília. Após as derrotas sofridas por Portugal no Marrocos, ele decidiu permanecer no Brasil, nas terras que havia recebido como retribuição pelos serviços prestados à pátria portuguesa.

A casa de D. Antônio foi construída baseada nos castelos medievais da Europa. Então, ele passa a viver em terras brasileiras com sua família, seus companheiros, fidalgos, aventureiros, cavaleiros e até mercenários que buscam prata e ouro. A propriedade fica às margens do Rio Paquequer, um afluente do Rio Paraíba, localizado na Serra dos Órgãos, onde ocorrem as ações do romance.

Entre os criados de D. Antônio, estava Loredano, um ex-frei que tinha planos de destruir sua família e raptar sua filha, Cecília. Mas a moça estava sempre protegida pelo índio Peri, o herói dessa história. Ele já salvara Cecília de uma avalanche de pedras, conquistando a gratidão e a amizade de seu pai.

Durante uma caçada, o filho de D. Antônio mata acidentalmente uma índia aimoré, deixando sua tribo enfurecida e ávida por vingança. Assim, enquanto se banhava, Cecília quase foi atacada por 2  índios aimorés, atingidos pelas flechas certeiras de Peri. Mas uma índia viu e contou para sua tribo o que havia ocorrido, desencadeando uma guerra entre os aimorés e D. Antônio.

Paralelamente, Loredano continua com seu plano de raptar Cecília. Mas suas intenções são aniquiladas por Peri, que está sempre protegendo a moça. Há também o personagem Álvaro, um jovem membro da nobreza apaixonado por Cecília, mas não correspondido por ela. Assim, acaba se envolvendo com Isabel, filha bastarda de D. Antônio apresentada como prima de sua amada.

A guerra entre a família Mariz e os aimorés fica cada vez mais intensa. Peri sabia que a tribo era antropófaga e, em um ato de sacrifício, toma veneno e vai lutar na aldeia; após sua morte em combate, seria devorado pelos índios, mas a carne iria matá-los por envenenamento.

Contudo, vendo o desespero de Cecília, Álvaro o salva e Peri toma um antídoto que o deixaria vivo. Álvaro acaba morrendo em combate, então, Isabel se suicida. Tempos depois, Loredano é preso e condenado à fogueira por tramar a morte de D. Antônio.

Os aimorés criam um cerco cada vez mais perigoso para a família do português. Vendo isso, D. Antônio pede a Peri que se converta ao Cristianismo e fuja com Cecília. O casal parte de canoa pelo Rio Paquequer e, quando os indígenas conseguem entrar no castelo, o próprio D. Antônio explode barris de pólvora, matando todos no local.

Após algum tempo, Cecília, que havia bebido uma garrafa de vinho dada pelo pai, acorda e ouve de Peri tudo que aconteceu. Horrorizada, ela resolve morar na mata com ele.

Contudo, as águas começam a subir, colocando-os em perigo. Então, Peri improvisa uma canoa e a visão do barco sumindo no horizonte encerra o romance. As últimas palavras de Cecília dão a entender que eles irão morrer.

Peri tinha parado para ver Cecília de longe.

Aires Gomes ergueu-se, correu para o índio e deitou-lhe a mão ao braço.

— Afinal pilhei-o, dom caboclo! Safa!… Deu-me água pela barba!… disse o escudeiro resfolgando.

— Deixa! respondeu o índio sem se mover.

— Deixar-te! Uma figa! Depois de ter batido esta mataria toda à tua procura! Tinha que ver!

Com efeito, D. Lauriana, desejando ver o índio fora de casa quanto antes, havia expedido o escudeiro em busca de Peri, para trazê-lo à presença de D. Antônio de Mariz.

Aires Gomes, fiel executor das ordens de seus amos, corria o mato havia boas duas horas; todos os incidentes cômicos, possíveis ou imagináveis, tinham-se como que de propósito colocado em seu caminho.

Aqui era uma casa de marimbondos, que ele assanhava com o chapéu, e o faziam bater em retirada honrosa, correndo a todo o estirão das pernas; ali era um desses lagartos de longa cauda que pilhado de improviso se enrolara pelas pernas do escudeiro com uma formidável chicotada.

Isto sem falar das urtigas, e das unhas-de-gato, cabeçadas e quedas, que faziam o digno escudeiro arrenegar-se, e maldizer da selvajaria de semelhante terra! Ah! quem o dera nos tojos e charnecas de sua pátria!

Tinha pois Aires Gomes razão de sobra para não querer largar o índio causa de todas as tribulações por que passara; infelizmente Peri não estava de acordo.

Estrutura da obra

O Guarani, de José de Alencar, é uma obra dividida em 4 partes, sendo elas: Os aventureiros, Peri, Os aimorés e A Catástrofe. Cada parte está organizada em capítulos, que somam de 200 a 250 páginas, dependendo da edição do livro. Quanto à estrutura da narrativa, os fatos seguem o padrão, contados de forma simples e linear.

Contexto histórico

O Guarani é considerado um dos principais livros em prosa da primeira geração do Romantismo no Brasil, conhecida como indianista. Na narrativa, pode-se perceber a preocupação do autor em trabalhar o processo de colonização do Brasil e a relação entre os portugueses (os colonizadores) e os índios (os colonizados).

Relevância da obra

A obra é de grande importância para a literatura brasileira, principalmente devido ao êxito do autor em criar um herói nacional baseado na figura do índio. Além disso, O Guarani faz parte da primeira trilogia de José de Alencar, na qual também estão as obras Iracema e Ubirajara. Futuramente, ele lançaria outra trilogia famosa, a dos perfis femininos, com os livros Lucíola, Senhora e Diva.

Dois dias passaram depois da chegada dos Aimorés; a posição de D. Antônio de Mariz e de sua família era desesperada.

Os selvagens tinham atacado a casa com uma força extraordinária; diante deles a índia, terrível de ódio, os excitava à vingança.  As setas escurecendo o ar abatiam-se como uma nuvem sobre a esplanada, e crivavam as portas e as paredes do edifício.

À vista do perigo iminente que corriam todos, os aventureiros revoltados retiraram-se e trataram de defender-se do ataque dos selvagens.

Houve como que um armistício entre os rebeldes e o fidalgo; sem se reunirem, os aventureiros conheceram que deviam combater o inimigo comum, embora depois levassem ao cabo a sua revolta.

D. Antônio de Mariz, encastelado na parte da casa que habitavam, rodeado de sua família e de seus amigos fiéis, resolvera defender até à última extremidade esses penhores confiados ao seu amor de esposo e de pai.

Se a Providência não permitisse que um milagre os viesse salvar, morreriam todos; mas ele contava ser o último, a fim de velar que mesmo sobre os seus despojos não atirassem um insulto.

Foco narrativo, narrador e linguagem

O foco narrativo da obra é em terceira pessoa, com um narrador onisciente, heterodiegético, que não participa da história, mas tem acesso aos pensamentos dos personagens. Certa falta de distanciamento do escritor retrata o índio como um herói nacional e foca na exaltação da natureza.

A ideologia medieval que perpassa o romance é notada na divisão dos personagens em um esquema tipicamente feudal, incluindo senhor, servos e vassalos. Além disso, a linguagem da obra é erudita, com palavras difíceis e um português arcaico. Contudo, o que mais se destaca aqui são as metáforas e os adjetivos utilizados para descrever cenários, pessoas e objetos.

Tempo e espaço

O Guarani, de José de Alencar, tem como pano de fundo a Serra dos Órgãos, localizada no interior do estado do Rio de Janeiro. O local onde os personagens portugueses moram é uma fazenda às margens do Rio Paquequer, mas não há menção a cidades ou vilarejos que existam atualmente. Em relação ao tempo, pode-se afirmar que a história se passa no início do século XVII.

Análise dos principais personagens

No romance, os personagens são peças fundamentais para a narrativa, incluindo tipos importantes do Romantismo, como a donzela, o herói, o vilão, o conselheiro, entre outros. Sendo assim, em O Guarani, de José de Alencar, temos os seguintes protagonistas:

Peri

Peri é um índio da tribo dos Goitacás e o herói da história. Nutre um profundo amor por Cecília, protegendo e salvando a moça em diversas situações. Aliás, foi por esse motivo que Peri passou a viver com a família de D. Antônio Mariz.

Cecília

Cecília é a donzela e o par romântico de Peri. A moça é caracterizada como meiga, delicada e doce, uma típica personagem feminina idealizada do Romantismo. Ela é filha de D. Antônio Mariz e D. Lauriana.

D. Antônio Mariz

D. Antônio Mariz é o pai de Cecília, agindo como uma espécie de conselheiro ou instrutor do herói, tipo comum no Romantismo. Esse personagem é descrito como um fidalgo português e foi baseado na figura histórica de um dos fundadores da cidade do Rio de Janeiro.

Loredano

Loredano é o antagonista, ou seja, o vilão. Narrado como um empregado da fazenda de D. Antônio, ele deseja roubar todo o patrimônio do fidalgo e obrigar Cecília a ser sua esposa. Tenta prejudicar a família Mariz diversas vezes, contudo, sempre é impedido por Peri.

Um grito de horror acolheu essas palavras ditas pelo índio em um tom simples e natural.

O plano que Peri combinara para salvar seus amigos acabava de revelar-se em toda a sua abnegação sublime e com o cortejo de cenas terríveis e monstruosas que deviam acompanhar a sua realização.

Confiado nesse veneno que os índios conheciam com o nome de curare, e cuja fabricação era um segredo de algumas tribos, Peri com a sua inteligência e dedicação descobrira um meio de vencer ele só aos inimigos, apesar do seu número e da sua força.

Sabia a violência e o efeito pronto daquela arma que seu pai lhe confiara na hora da morte; sabia que bastava uma pequena parcela desse pó sutil para destruir em algumas horas a organização mais forte e mais robusta. O índio resolveu pois usar deste poder que na sua mão heróica ia tornar-se um instrumento de salvação e o agente de um sacrifício tremendo feito à amizade.

Dois frutos bastaram; um serviu para envenenar a água e as bebidas dos aventureiros revoltados; e o outro acompanhou-o até o momento do suplício, em que passou de suas mãos aos seus lábios.

Quando o cacique vendo-o cobrir o rosto perguntou-lhe se tinha medo, Peri acabava de envenenar o seu corpo, que devia daí a algumas horas ser um germe de morte para todos esses guerreiros bravos e fortes.

Notas sobre o autor

José Martiniano de Alencar nasceu na capital do Ceará, Fortaleza, em 1829. Seu pai era senador, por isso, ele se mudou para o Rio de Janeiro quando ainda era menino. José de Alencar teve uma vida muito movimentada, não apenas como escritor, mas também como político.

Membro do Partido Conservador, foi deputado pelo Ceará e também Ministro da Justiça. Cinco minutos foi seu primeiro romance, lançado em 1856. Em sequência, veio A Viuvinha, de 1857, mas foi com O Guarani que o escritor ganhou visibilidade tanto da crítica quanto do público.

A obra de José de Alencar é uma das maiores representações do Romantismo no Brasil, sendo dividida em 4 fases principais. A primeira, dos romances indianistas, contém O GuaraniUbirajara e Iracema. Já na segunda, temos livros como Guerra dos Mascates e Minas de Prata. Em sua terceira fase, o autor enfatizou o regionalismo, escrevendo O tronco do Ipê, O Gaúcho e Til. No último período, ele produziu romances mais urbanos, como Lucíola, A Prata da Gazela e Diva.

Alencar atuou como jornalista, escrevendo para o Jornal do Comércio, o Correio Mercantil e o Diário do Rio de Janeiro. Além disso, foi crítico teatral e orador, ocupando a cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras. Em 12 de dezembro de 1877, José de Alencar faleceu, vítima de tuberculose, aos 48 anos.

E o índio ergueu os olhos com uma expressão inefável de reconhecimento. Falou com um tom solene:

‘Foi longe, bem longe dos tempos de agora. As águas caíram, e começaram a cobrir toda a terra. Os homens subiram ao alto dos montes; um só ficou na várzea com sua esposa.’

‘Era Tamandaré; forte entre os fortes; sabia mais que todos. O Senhor falava-lhe de noite; e de dia ele ensinava aos filhos da tribo o que aprendia do céu.’

‘Quando todos subiram aos montes ele disse: Ficai comigo; fazei como eu, e deixai que venha a água.’

‘Os outros não o escutaram; e foram para o alto; e deixaram ele só na várzea com sua companheira, que
não o abandonou.’

‘Tamandaré tomou sua mulher nos braços e subiu com ela ao olho da palmeira; ai esperou que a água viesse e passasse; a palmeira dava frutos que o alimentavam.’

‘A água veio, subiu e cresceu; o sol mergulhou e surgiu uma, duas e três vezes. A terra desapareceu; a árvore desapareceu; a montanha desapareceu.’

‘A água tocou o céu; e o Senhor mandou então que parasse. O sol olhando só viu céu e água, e entre a água e o céu, a palmeira que boiava levando Tamandaré e sua companheira.’

‘A corrente cavou a terra; cavando a terra, arrancou a palmeira; arrancando a palmeira, subiu com ela; subiu acima do vale, acima da árvore, acima da montanha.’

“Todos morreram. A água tocou o céu três sóis com três noites; depois baixou; baixou até que descobriu a terra.

‘Quando veio o dia, Tamandaré viu que a palmeira estava plantada no meio da várzea; e ouviu a avezinha do céu, o guanumbi, que batia as asas.’

‘Desceu com a sua companheira, e povoou a terra.’

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Até a próxima!

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