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O Ateneu, de Raul de Pompeia

Olá, leitor!

O Ateneu, romance de Raul de Pompeia, publicado pela primeira vez em 1888, trata-se de uma obra importantíssima para a literatura brasileira, devido a sua consagração do realismo brasileiro, englobando uma narrativa com inúmeras questões acerca da vida humana através de suas personagens.

Inicialmente publicado através de folhetins, O Ateneu transformou-se em livro devido a presença marcante do realismo na narrativa, que estava em destaque na época, e pela temática do internato e das instituições da época para jovens, bem como por se tratar de uma obra mais jovial e falar sobre assuntos tabus, tais quais como o homossexualismo.

“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta. Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam.”

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Notas sobre o autor

Raul Pompéia, nascido em 1863 em Angra dos Reis, mas que ainda muito cedo se mudou para a cidade do Rio de Janeiro, onde viveu a maior parte da sua vida. Na adolescência, ingressou no internato Colégio Abílio, concluindo posteriormente seus estudos no Colégio Pedro II, para se formar em Direito e se tornar diretor da Biblioteca Nacional. Começou a escrever em folhetins, sendo que publicou romances, contos e poemas, sendo as suas obras mais conhecidas junto a esta, Microscópicos (1881) e Canções sem Metro (1900). No ano de 1895, após a sua demissão desse cargo, suicidou-se em frente a sua mãe.

Contexto histórico

O contexto histórico da obra caracteriza-se através da falsa reestruturação do sistema educacional brasileiro ocorrido em meados do século XIX, principalmente em relação aos internatos frequentados pelos filhos dos burgueses da época, que possuíam estruturas muito rígidas e modelos severos de educação, bem como autoritarismo e educação moralista exacerbada.

O livro faz duras críticas às mudanças desse sistema que, por sua vez, não mudou em nada, apenas mascarou algumas questões. Muitos acontecimentos do livro são caracterizados como memórias no próprio autor do período em que ele estudou no internato.

Relevância da obra

A relevância dessa obra se dá pelo fato dela se enquadrar no realismo brasileiro, por se tratar de um romance que destaca a sociedade de uma forma crua e fiel, apontando todas as suas singularidades de forma objetiva e o mais real possível.

O narrador também possui um papel importante nessa obra, pois, através dele, podemos perceber as emoções guardadas do narrador e expressão através da narrativa memorialista.

“A irradiação da réclame alongava de tal modo os tentáculos através do país, que não havia família, de dinheiro, enriquecida pela setentrional borracha ou pela charqueada do sul, que não reputasse um compromisso de honra com a posteridade doméstica mandar dentre seus jovens, um, dois, três representantes abeberar-se à fonte espiritual do Ateneu.”

Resumo da obra

A narrativa conta a história de Sérgio já adulto, que começa a relatar a sua experiência pessoal em um internato, intitulado, por sua vez, de Ateneu. O colégio caracteriza-se em um ambiente altamente moralista, porém, corrupto e cheio de hipocrisia, dirigido pelo Dr. Aristarco, um personagem que apenas estava interessado nos lucros do internato e ganhos materiais, sem ligar para a evolução educativa dos alunos e nem as condições da sua própria instituição.

Assim começa os relatos que contam a chegada do jovem ao internato, levado até lá por seu pai que fala pra ele sobre a importância de se tornar um homem e ganhar o mundo, passando por trechos marcantes com outros jovens que ele conhece e cria relações, enfatizando questões acerca do aprender a desenvolver suas emoções ao mesmo tempo em que ganha maturidade.

Durante a sua estadia no internato, existem muitas passagens marcantes, desde situações felizes e dramáticas, com passagens de humor e uma criticidade velada, porém, ácida. Sérgio assim vai atendendo as exigências do pai de se tornar um homem, relatando ao decorrer da narrativa os seus medos, as suas decepções, a severa postura empregada pela instituição e os seus relacionamentos, principalmente a amizade.

A crítica ao modelo educacional moralista é nítida em diversas passagens, bem como a hipocrisia revelada em diversos trechos dos próprios funcionários da escola, como é o caso do diretor, e dos outros alunos.

Assim passa-se dois anos de internato, relatos numa espécie de diário pelo narrador, com diversas passagens interessantes permeadas de metáforas. Retratando o internado em toda sua complexidade, além das suas relações de amizade, que em certo momento se tornam muito próximas, principalmente em relação a seu amigo Egbert, onde ambos caracterizam algumas passagens considerados homossexuais. Nesse momento encontra-se a influência naturalista da obra, colocando os instintos humanos primitivos como fator essencial.

O amor imaturo e juvenil é caracterizado através da relação entre Ema e Sérgio, que ao contrair sarampo passa a ser cuidado pelo diretor e sua esposa, sendo que uma ligação muito forte passa a acontecer entre eles, contudo, muito mais por parte do garoto que se vê apaixonado pela Ema, esposa do diretor.

O desfecho da obra se dá em um incêndio no Ateneu, supostamente provocado por rum aluno novo, Américo, que deixado contra sua vontade no internato decidiu-se por se vingar. Assim, D. Ema desaparecer sem deixar pistas, mas o seu marido diretor sobrevive assim como os alunos. Então, com o internado destruído pelas chamas, Sérgio encerra a narrativa memorialista sobre suas experiencias e aprendizagens no Ateneu.

“Aqui suspendo a crônica das saudades. Saudades verdadeiramente? Pura recordações, saudades talvez se ponderarmos que o tempo é a ocasião passageira dos fatos, mas sobretudo – o funeral para sempre das horas.” 

Estrutura da obra

O Ateneu é um livro disposto em 12 capítulos e conta a história de Sérgio, um garoto de 11 anos que é deixado num internado pelo pai com a intenção dele se transformar em homem e se enquadrar nos moldes morais da elite social da época.

Trata-se de uma obra memorialista, onde a ficção e a realidade se misturam, tendo em vista que o próprio autor passou por um internado mais ou menos com a mesma idade e mais ou menos pelo mesmo período de tempo. Além disso, curiosamente o livro carrega consigo o subtítulo de “Crônicas de saudades”, que pode ser relacionada tanto ao narrador-personagem que está contando sua história, quanto ao autor e a sua própria experiência de vida.

Narrador

A narrativa dessa obra é memorialista, de confissão, onde o narrador personagem (autodiegético), conta a sua experiência de dois anos em um internato, relatando tudo em primeira pessoa.

Assim, Sérgio apresenta aos leitores as suas memórias da infância e da juventude, o que faz com que a narrativa perca a imparcialidade, ou seja, apenas o ponto de vista e a versão da história de Sérgio pode ser consultada.

Como dito anteriormente, Sérgio é o alterego do próprio escritor, Raul de Pompeia, então a influência da narrativa pessoal é inevitável, inclusive, o incêndio ao final do livro pode ser considerado como uma vingança do próprio escritor contra o internato onde estudos na infância.

Tempo e Espaço

O tempo da obra se passa entre a última década do século XIX, relatados através do tempo psicológico por se tratar de um romance memorialista, ou seja, o dois anos em que se passam a história na verdade estão sendo relembrados, sendo assim, não se caracterizam na passagem de tempo em sai da obra.

Uma das características presentes em romances memorialistas são a utilização de flash backs, sendo que os fatos vão sendo narrados à medida que vem à cabeça do narrador, sem uma linearidade correta.

O espaço, por sua vez, é caracterizado através da cidade do Rio de Janeiro, mas sem especificar um local ou locais específicos, além do “fictício” colégio Ateneu.

Principais personagens

Os principais personagens de O Ateneu, são:

Sérgio

Personagem principal, um menino de 11 anos que se vê internado em um colégio moralista e severamente rígido, que em sua vida adulta passa a contar a história da sua infância e juventude.  Inicialmente, o peque Sérgio é apresentado como um garoto criado no seio familiar, com carinho da mãe e aconchego, que é colocado no internato pelo pai com a intenção de fazê-lo virar um homem e se encaixar nos padrões impostos pela sociedade da época. Sérgio chega ao Ateneu como uma criança imatura, inocente e frágil, que vai aprendendo sobrea a vida e suas dificuldades ao mesmo tempo em que ganha maturidade em seus dois anos de estadia no internato.

Aristarco

Aristarco é o diretor do Ateneu, caracterizado pelo autoritarismo, insensibilidade, ganância e vaidade, pois somente pensava em lucrar com o seu colégio. Representa os conceitos moralistas impregnados de hipocrisia, bem como um lado sujo e fútil da elite, que apenas preocupava-se com status social e riqueza.

Ema

Esposa do diretor do Ateneu, que diferente dele, coloca-se na narrativa como a oposição do próprio marido, caracterizada como uma das poucas pessoas ali que se preocupavam de verdade com as crianças, além de ser muito bela e atenciosa, o que faz com que uma paixão nasça em Sérgio por sua pessoa no período em que fica mais próximo a ela devido à doença.

Egbert

Um dos amigos mais próximos de Sérgio. A relação dos dois é bastante íntima e entre eles acontecem situações consideradas homossexuais, devido a grande amizade e proximidade de ambos. Contudo, existem diversas outras passagens consideradas homossexuais entre outras personagens do livro além da relação de Sérgio e Egbert.

Os colegas

Os outros colegas do internato são apresentados como tipos caricatos, personagens rasos que são mencionados para caracterizar tipos comuns da época.

 “Depois de algumas horas de sono, voltei ao colégio. O fogo abatera. Parte da casa tinha escapado. Refeitório, cozinha, copa, uma ou duas salas. Foram respeitados os pavilhões independentes, do pátio. Funcionavam ainda as bombas, refrescando o entalho carbonizado e as paredes. De todos os lados, como de extensa solfatara, nasciam filetes de fumaça, mantendo um nevoeiro terroso e um cheiro forte de madeiras queimadas. As paredes mestras sustentavam-se firmes, varadas de janelas, como arrombamentos iguais, negrejantes como da ação continua de muitas idades de ruína.”

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