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Resumo de obra: O Alienista, de Machado de Assis

Olá, leitor(a)!

O Alienista, de Machado de Assis, conto dividido em 13 capítulos, foi publicado originalmente em 1882 e é considerado uma história clássica e sagaz sobre a frágil fronteira que separa a racionalidade da loucura.

O Alienista, obra que abriu caminho para a fase realista de Machado de Assis, divide as opiniões dos críticos, já que uns o consideram um conto e outros, uma novela. Mesmo com a discussão por conta do tamanho da narrativa, a maioria dos estudiosos a classifica como um conto mais prolongado.

Como precursora do Realismo, a obra apresenta personagens com características psicológicas e até críticas sociais. Mesmo que muitos digam que Memórias Póstumas de Brás Cubas inaugurou essa escola literária no Brasil, o que é verdade, pois foi o primeiro romance realista, é inegável ver que o surgimento dessa corrente ocorreu antes nos contos.

O Alienista é enquadrado como o primeiro texto realista escrito por um autor brasileiro, compondo a vasta obra de um dos maiores nomes da literatura, Machado de Assis.

Como alguns outros contos do mesmo autor (A Cartomante, Missa do Galo, A Causa Secreta, A Igreja do Diabo), O Alienista se destaca por se tratar de uma narrativa mais curta cheia da singularidade e da perspicácia do estilo realista de Machado de Assis.

Isso porque, mesmo em suas obras românticas, o autor já possuía muitas das características realistas que trabalharia no futuro, como humor ácido, sagacidade, ironia e uma crítica ferrenha a diversos aspectos sociais da época.

“— A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo.

Dito isso, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência, alternando as curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas. Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele, caçador de pacas perante o Eterno, e não menos franco, admirou-se de semelhante escolha e disse-lho. Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas,— únicas dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte.”

Resumo da obra

O Alienista

Fonte: Reprodução

Após conquistar respeito em sua profissão de médico tanto no Brasil quanto na Europa, o Dr. Simão Bacamarte retorna para sua terra natal, a cidade de Itaguaí, para se dedicar mais ainda ao ofício. Passado algum tempo, ele se casa com D. Evarista, uma mulher que, mesmo viúva, ainda era jovem, com cerca de 25 anos, mas não era nem simpática, nem bonita. O médico a escolheu porque a julgava capaz de gerar bons filhos, o que, contraditoriamente, nunca chegou a ocorrer.

O Dr. Bacamarte resolve dedicar-se também aos estudos da mente humana. Então constrói a Casa Verde, que abrigaria todos os loucos da região. Quanto mais obcecado pelo trabalho ele fica, mais lotado o local se torna.

Inicialmente, os internos eram tidos como casos inegáveis de loucura. Em determinado momento, entretanto, o médico começa a enxergar problemas e a internar todos que provocassem qualquer tipo de espanto.

A primeira dessas pessoas foi o Costa, um homem que perdeu todo o seu patrimônio emprestando dinheiro aos outros e não conseguia cobrar de volta o que lhe era devido.

Todas essas internações deixam a cidade alarmada. Mas a população esperava que o retorno de D. Evarista, em viagem pelo Rio de Janeiro, reduzisse as atividades do marido. Porém, mesmo com a sua volta, o Dr. Bacamarte continua agindo da mesma maneira.

Com o passar do tempo, a cidade adquire um clima cada vez mais hostil. Então, o barbeiro Porfírio, que deseja ingressar na carreira política, resolve armar um protesto.

As internações são momentaneamente interrompidas, mas ele consegue levar a cabo a Revolta dos Canjicas (Canjica era o seu apelido). Quando os manifestantes chegam até a casa do médico, são recebidos de forma muito racional e equilibrada, o que diminui a sua fúria por algum tempo.

A insatisfação volta quando Bacamarte retoma seus estudos. A força armada da cidade tenta controlar a situação, mas a própria polícia acaba se juntando aos revoltosos e Porfírio se vê numa posição de poder, como um líder dessa revolução.

Agora com plenos poderes, Porfírio chama o Dr. Bacamarte para uma conversa. Mas o médico não é mandado embora, como a população esperava. Pelo contrário, os dois se unem e continuam com as internações na cidade.

Alguns dias depois, 50 apoiadores da Revolução dos Canjicas são internados. Então, João Pina, outro barbeiro da região, arma uma confusão tão grande que Porfírio é deposto de seu cargo.

A história se repete e o novo governo não é capaz de derrubar a Casa Verde. As internações seguem de forma mais acelerada ainda. Até D. Evarista é internada, pelo simples fato de não conseguir dormir por estar em dúvida sobre qual roupa usaria para ir a uma festa.

Por fim, a cidade fica com três quartos de sua população internados na Casa Verde. Simão Bacamarte se dá conta de que sua teoria estava errada e resolve libertá-los. Se a maioria das pessoas apresentava desvios de personalidade, então o louco seria quem mantinha regularidade nas suas ações e possuía muita firmeza de caráter.

Baseando-se na sua nova teoria, ele recomeça as internações e o primeiro paciente é o vereador Galvão, que havia proposto uma lei para impedir que qualquer um dos vereadores fosse enviado para a Casa Verde. Continuam as internações, porém são consideradas curadas as pessoas com desvios de caráter.

Passado um tempo, o médico percebe que mais uma vez suas teorias estavam erradas e libera todos os pacientes. Descobrindo que todas as pessoas têm personalidades distintas e com defeitos, pensa que apenas ele possui caráter perfeito e conclui que deve morar sozinho na Casa Verde para o resto de sua vida.

“No fim de cinco meses e meio estava vazia a Casa Verde; todos curados! O vereador Galvão, tão cruelmente afligido de moderação e eqüidade, teve a felicidade de perder um tio; digo felicidade, porque o tio deixou um testamento ambíguo, e ele obteve uma boa interpretação corrompendo os juízes e embaçando os outros herdeiros. A sinceridade do alienista manifestou-se nesse lance; confessou ingenuamente que não teve parte na cura: foi a simples vis medicatrix da natureza. Não aconteceu o mesmo com o Padre Lopes. Sabendo o alienista que ele ignorava perfeitamente o hebraico e o grego, incumbiu-o de fazer uma análise crítica da versão dos Setenta; o padre aceitou a incumbência, e em boa hora o fez; ao cabo de dois meses possuía um livro e a liberdade. Quanto à senhora do boticário, não ficou muito tempo na célula que lhe coube, e onde aliás lhe não faltaram carinhos.

— Por que é que o Crispim não vem visitar-me? dizia ela todos os dias.

Respondiam-lhe ora uma coisa, ora outra; afinal disseram-lhe a verdade inteira. A digna matrona não pôde conter a indignação e a vergonha. Nas explosões da cólera escaparam-lhe expressões soltas e vagas, como estas:

— Tratante!… velhaco!… ingrato!… Um patife que tem feito casas à custa de ungüentos falsificados e podres… Ah! tratante!…

Simão Bacamarte advertiu que, ainda quando não fosse verdadeira a acusação contida nestas palavras, bastavam elas para mostrar que a excelente senhora estava enfim restituída ao perfeito desequilíbrio das faculdades; e prontamente lhe deu alta.”

Principais personagens da obra

Os principais personagens de O Alienista são:

Simão Bacamarte

O grande protagonista da história, médico obcecado pela profissão.

Evarista

Foi escolhida pelo Dr. Bacamarte para ser sua esposa. Mesmo não sendo nem bonita, nem simpática, ele a considerava perfeita para ser mãe de seus filhos, mas ela nunca conseguiu gerar herdeiros.

Crispim Soares

Amigo do Dr. Bacamarte e boticário da cidade.

Padre Lopes

Homem de muitas virtudes e vigário da cidade.

Porfírio, o barbeiro

Ele é apresentado como um homem ambicioso, que desejava poder a todo custo.

Significado da palavra alienista

O termo alienista é um sinônimo para psiquiatra. Os alienistas são aqueles que se especializam no estudo do diagnóstico e do tratamento das doenças mentais.

Análise da obra

O Alienista inaugura a fase realista dos contos de Machado de Assis, na qual eles antecipam diversas características das obras posteriores do escritor, como análise crítica, social e psicológica.

O narrador é onisciente e em terceira pessoa. Assim, consegue expor o comportamento humano indo além das aparências sociais, mostrando, com ironia, a vaidade e o egoísmo das pessoas.

Machado de Assis põe em questão as fronteiras entre o normal e o anormal  por meio de um médico que tenta entender os distúrbios psicológicos de uma população. Por isso, há uma proximidade entre o autor e seu personagem, o Dr. Simão Bacamarte, já que ambos estão interessados em analisar as pessoas em suas atitudes e relações sociais.

A narrativa gira em torno de Bacamarte, que segue com frieza e rigidez as teorias científicas, mas também conta com outros personagens repletos de características e detalhes.

Entre eles está D. Evarista, esposa dedicada que admira e ama muito seu marido. Mesmo respeitando o profissionalismo do médico, não segue suas recomendações e sente ciúmes de sua devoção à profissão.

Em contrapartida, temos Crispim Soares, o boticário da cidade, que admira e respeita o alienista, mas faz isso por interesses particulares, para conseguir vantagens do médico.

Há também o barbeiro Porfírio, que se apresenta como um homem preocupado com questões sociais, mas que só queria obter ganhos políticos.

Enfim, O Alienista, trazendo os primeiros vislumbres da literatura realista de Machado de Assis, discute temas complexos sobre a condição psicológica humana e está repleto de críticas sociais, ao revelar, de forma irônica, o egoísmo, a vaidade e até mesmo a ambição das pessoas.

Notas sobre o autor

Machado de Assis é considerado o maior escritor da literatura brasileira. José Maria Machado de Assis (21/06/1839 – 29/09/1908), filho de um dourador e pintor e órfão de mãe desde muito jovem, foi criado no Morro do Livramento e passou por dificuldades financeiras até conseguir se estabelecer como um intelectual.

Machado de Assis começou sua carreira como aprendiz de tipógrafo, passou pelo jornalismo, virou cronista, poeta, romancista, contista e teatrólogo. Ele produziu textos de quase todos os gêneros literários. Também foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

“Era decisivo. Simão Bacamarte curvou a cabeça, juntamente alegre e triste, e ainda mais alegre do que triste. Ato contínuo, recolheu-se à Casa Verde. Em vão a mulher e os amigos lhe disseram que ficasse, que estava perfeitamente são e equilibrado: nem rogos nem sugestões nem lágrimas o detiveram um só instante.

— A questão é científica, dizia ele; trata-se de uma doutrina nova, cujo primeiro exemplo sou eu. Reúno em mim mesmo a teoria e a prática.

 — Simão! Simão! Meu amor! dizia-lhe a esposa com o rosto lavado em lágrimas.

Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção científica, trancou os ouvidos à saudade da mulher, e brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa Verde, entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem os cronistas que ele morreu dali a dezessete meses, no mesmo estado em que entrou, sem ter podido alcançar nada. Alguns chegam ao ponto de conjeturar que nunca houve outro louco, além dele, em Itaguaí, mas esta opinião, fundada em um boato que correu desde que o alienista expirou, não tem outra prova senão o boato; e boato duvidoso, pois é atribuído ao Padre Lopes, que com tanto fogo realçara as qualidades do grande homem. Seja como for, efetuou-se o enterro com muita pompa e rara solenidade.”

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