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Resumo de livro: Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

Olá, leitor!

Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é a obra mais importante do Realismo no Brasil, sendo a responsável pela inauguração dessa escola literária. Publicado em 1881, o livro também marca uma divisão na produção do autor, pois foi partir de então que Machado de Assis se consagrou como um cânone, tornando-se o maior escritor da literatura brasileira.

Memórias Póstumas de Brás Cubas é um romance que pode ser considerado uma sátira menipeia – gênero literário em prosa no qual o narrador critica não indivíduos específicos, mas sim os costumes da sociedade humana. Dessa forma, Brás Cubas é o personagem narrador-defunto que conta suas experiências de vida permeadas pelas futilidades sociais e pelo desprezo que manifesta em relação à sociedade e às pessoas com suas paixões que não dão em nada.

Memórias Póstumas de Brás Cubas é o primeiro romance da trilogia realista de Machado de Assis, a qual compõe com Quincas Borba e Dom Casmurro, sendo as três obras fundamentais para a consagração do autor na literatura brasileira.

“’Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — ‘Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.’”

Resumo da obra

Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

Fonte: Canal do Ensino

A narrativa começa quando Brás Cubas, após a morte, decide contar a história de sua vida. Por isso, a obra não possui linearidade cronológica, já que o narrador-defunto apresenta os fatos alternando os episódios que acha mais relevantes, sempre com muita ironia, doses de humor ácido e uma visão de mundo extremamente pessimista. Sendo assim, inicia a história a partir de seus últimos instantes de vida, com os delírios que antecedem a morte.

Então, volta no tempo e começa a falar sobre sua infância, revelando que nasceu numa família rica e cheia de posses; por isso, nunca precisou trabalhar para se sustentar. Também conta que foi uma criança levada, que não respeitava os adultos, maltratava os empregados e os escravos e aprontava horrores, vivendo sempre sob a proteção paternal.

Durante a adolescência, apaixonou-se por Marcela, uma cortesã, com quem teve um romance ao longo de 15 meses, mesmo sabendo que ela apenas amava o seu dinheiro. Diante da situação, seu pai decidiu enviá-lo à Europa para estudar. Brás Cubas, porém, nunca se importou com sua instrução e, de volta ao seu país, acabou não exercendo nenhuma atividade, levando a boa vida proporcionada pelas riquezas da família.

Após a chegada ao Brasil, começou a flertar com Eugênia, uma moça muito romântica e bonita, filha de uma amiga de sua mãe. Contudo, lembrou-se de um episódio da infância no qual vira a mãe de Eugênia beijar um homem casado em uma moita, durante uma festa na casa de seu pai. Assim, ironicamente, mesmo cortejando a moça, passou a chamá-la de “flor-da-moita”, referindo-se à sua paternidade nunca revelada.

Brás Cubas sabia que seu pai jamais aceitaria que ele se casasse com uma moça pobre e filha de mãe solteira. Entretanto, continuou o cortejo, chegando até a roubar um beijo de Eugênia. O flerte terminou quando descobriu que a moça era “coxa” de nascença, fugindo horrorizado com a ideia de ser ridicularizado por estar envolvido com uma menina com um problema nas pernas.

“O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma. O melhor que há, quando se não resolve um enigma, é sacudi-lo pela janela fora; foi o que eu fiz; lancei mão de uma toalha e enxotei essa outra borboleta preta, que me adejava no cérebro. Fiquei aliviado e fui dormir. Mas o sonho, que é uma fresta do espírito, deixou novamente entrar o bichinho, e aí fiquei eu a noite toda a cavar o mistério, sem explicá-lo.”

Com a intenção de torná-lo ministro, o pai de Brás Cubas arranjou para ele um casamento com Virgília, filha de um político da alta sociedade. Entretanto, o pretendente, com sua falta de vontade, antipatia e incompetência, deixou a moça escapar, perdendo-a para um homem chamado Lobo Neves.

Depois de um tempo, os antigos noivos se encontraram novamente e passaram a viver como amantes. Virgília não queria abrir mão do prestígio social e de todos os benefícios vindos do casamento com Neves, agora na carreira política. Por isso, o relacionamento adúltero dos dois ocorreu durante anos, sendo interrompido apenas quando Lobo Neves foi nomeado governador de uma província e partiu do Rio de Janeiro com a família.

Conforme os anos foram passando, Brás Cubas envelheceu sem ter feito nada de relevante na vida, sobrevivendo das riquezas de seu finado pai. Ele ainda tentou mais uma vez se casar e constituir uma família. Com a ajuda e insistência da irmã, Brás Cubas ficou noivo de Eulália, uma moça pobre, sobrinha de seu cunhado. No entanto, antes mesmo de se casarem, ela ficou doente e acabou falecendo.

Brás Cubas chegou ao fim de sua vida sem ter constituído uma família, sem ter se casado, sem ter sido pai, sem ter alcançado cargo algum de prestígio e sem ter conseguido deixar seu nome na história. No final do livro, ele ironiza tanto sua trajetória quanto os costumes sociais, afirmando que a vida é uma miséria, cujo legado não deve ser perpetuado por meio de filhos.

Estrutura da obra

Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em 1881, é um romance com 160 capítulos de extensões variadas (essa é uma das marcas de inovação literária de Machado de Assis), com cerca de 200 páginas, a depender da edição.

O livro é uma espécie de narrativa memorialista ficcional de um personagem narrador-defunto. Assim, sua estrutura não segue uma linearidade e é permeada por flashbacks da vida do protagonista. O fato de Brás Cubas começar a história por sua morte, que deveria ser o final do livro, é outro sinal de originalidade.

A obra marca o início do Realismo no Brasil e de uma nova fase na escrita de Machado de Assis, sendo uma das mais importantes narrativas da literatura brasileira.

Contexto histórico

O contexto histórico abordado na obra envolve desde a Independência do Brasil, período no qual se passa a juventude do personagem principal, até o governo de D. Pedro II, época marcada pela esperança de melhoria e  crescimento durante a qual ocorre a vida adulta de Brás Cubas.

Assim, Machado de Assis utiliza a própria trajetória do personagem para retratar as mudanças da sociedade brasileira.

Notas sobre o autor

Joaquim Maria Machado de Assis (1839 – 1908) está entre os melhores escritores da literatura nacional, figurando entre os principais autores do mundo. Além disso, ele foi um dos fundadores e o primeiro presidente da ABL (Academia Brasileira de Letras).

Sua produção literária começou no Romantismo. Contudo, foi consolidada no Realismo, com o lançamento de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Narrador e foco narrativo

Narrado em primeira pessoa (narrador autodiegético) por um defunto-autor que resolveu escrever suas memórias após a morte. A utilização de um personagem que não faz mais parte do mundo terreno proporciona ao narrador certa propriedade para falar sobre a vida, o que faz com que ele discorra livremente sobre os fatos.

O foco narrativo baseia-se nas observações das experiências do narrador, ou seja, tudo é contado por meio dos relatos do protagonista julgando os seus próprios atos, as pessoas e a sociedade ao seu redor.

Fui ter com Virgília; bem depressa esqueci o Quincas Borba. Virgília era o travesseiro do meu espírito, um travesseiro mole, tépido, aromático, enfronhado em cambraia e Bruxelas. Era ali que ele costumava repousar de todas as sensações más, simplesmente enfadonhas, ou até dolorosas. E, bem pesadas as coisas, não era outra a razão da existência de Virgília; não podia ser. Cinco minutos bastaram para olvidar inteiramente o Quincas Borba; cinco minutos de uma contemplação mútua, com as mãos presas umas nas outras; cinco minutos e um beijo. E lá se foi a lembrança do Quincas Borba… Escrófula da vida, andrajo do passado, que me importa que exista, que molestes os olhos dos outros, se eu tenho dois palmos de um travesseiro divino, para fechar os olhos e dormir?

Tempo e espaço

O tempo é composto por duas linhas temporais diferentes. Uma é marcada pelo tempo psicológico do defunto-autor, que narra a história como bem entende, utilizando flashbacks e digressões, manipulando os fatos segundo sua vontade.

A outra linha temporal, por sua vez, segue o tempo cronológico, pois os acontecimentos se desenrolam em ordem lógica, indo da infância até o momento da morte, mesmo que sejam narrados na ocasião escolhida pelo defunto-autor.

Nessa linha, podemos observar que os fatos se passam no século XIX, o que nos permite vislumbrar a sociedade carioca do período.

Análise dos personagens

Os principais personagens são:

Brás Cubas

Narrador e protagonista, escreve as memórias de sua vida após a morte. A condição de ser um defunto-autor traz a liberdade de contar os fatos e julgar as pessoas sem apego aos costumes sociais. Assim, ele constrói uma visão de mundo sincera, irônica e pessimista, que não deixa de ser tendenciosa – já que ele narra os acontecimentos da maneira que bem quer.

Utiliza diversas ideias e julgamentos para criticar a sociedade e a própria existência humana. Representa uma elite imatura e inconsequente, que não se importa com as outras pessoas nem com as mazelas da sociedade.

Virgília

Uma personagem definida pelas aparências sociais. Mesmo casada com Lobo Neves, tem um caso com Brás Cubas por muitos anos. Apesar de, provavelmente, gostar mais do amante do que do marido, Virgília não desfaz o casamento para manter o prestígio e os benefícios financeiros. Representa as falsas convenções sociais, a dissimulação e a hipocrisia de uma elite focada em bens materiais e privilégios.

Marcela

Cortesã por quem Brás Cubas se apaixona na juventude. Ambos mantêm um caso amoroso, que, para Marcela, não passava de um negócio. Ela representa o desejo de ascensão social e ganho de riquezas a qualquer custo; também simboliza o amor imaturo e inconsequente.

Eugênia

A jovem bonita que Brás Cubas abandona ao perceber que é “coxa” de nascença. Eugênia representa as futilidades sociais, já que o medo de ser ridicularizado pela sociedade faz com que o protagonista a deixe, mesmo achando-a muito bonita e atraente.

Relevância da obra

Memórias Póstumas de Brás Cubas é de extrema importância por inaugurar o Realismo no Brasil, sendo um livro repleto de inovações literárias introduzidas por Machado de Assis. As duas marcas de originalidade mais relevantes são a escolha de um narrador defunto-autor e a subversão da ordem cronológica.

O fato de Brás Cubas estar morto possibilita que ele apresente uma visão de mundo sem se preocupar com a moralidade e com as convenções sociais da época, o que se traduz em um retrato ácido e irônico da elite carioca do século XIX.

Assim, a obra traz uma análise perspicaz e sem pudores da sociedade e do caráter psicológico de todos os personagens, inclusive do protagonista. Essa característica rompe com os padrões do Romantismo e dá lugar a uma narrativa sobre as aparências sociais e a miséria da condição humana.

Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”

Gostou da nossa análise de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis? Confira os resumos dos outros livros da tríade realista do autor:

Até logo!

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