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Resumo de livro: Iracema, Lenda do Ceará, de José de Alencar

Olá, leitor!

Publicado em 1865, Iracema, de José de Alencar, é um romance da primeira fase do Romantismo no Brasil, considerado um dos maiores livros desse gênero.

As características pertencentes a essa fase, conhecida como indianista – nacionalismo, exaltação do índio como figura do herói, sentimentalismo, religiosidade cristã, exagero e retorno ao passado – se manifestam ao longo da narrativa desse romance.

Iracema traz como subtítulo Lenda do Ceará, o que caracteriza a obra como uma referência direta à colonização desse estado, tendo como contexto histórico a própria colonização do Brasil. Confira tudo sobre esse importante livro!

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo do jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.

Resumo da obra

Resumo de livro: Iracema

Fonte: Canal do Ensino

O enredo se apresenta por meio da história de Iracema, a virgem dos lábios de mel, e o amor que acontece entre ela e Martim, guerreiro branco, amigo dos pitiguaras – índios da região litorânea – e primeiro colonizador português do Ceará.

Martim se perde na mata certo dia e acaba sendo encontrado por Iracema, que o leva para a sua tribo tabajara, acolhendo-o ao perceber que ele não é nenhum inimigo. Sendo assim, ele passa a ser tratado como hóspede por todos os índios do local.

Em pouco tempo, por conta da convivência entre os dois, Iracema e Martim se apaixonam um pelo outro. Contudo, as tribos a que cada um pertencia – pitiguaras e tabajaras – eram rivais. Enquanto os pitiguaras eram aliados dos portugueses, os tabajaras tinham se aproximado dos holandeses.

Os tabajaras habitavam o interior das matas e das florestas do Ceará, já os pitiguaras viviam nas margens litorâneas, o que gerava disputas territoriais entre eles.

Certo dia, depois de uma grande celebração na tribo dos tabajaras, o guerreiro Irapuã decide que eles entrariam em combate com os pitiguaras. Os conflitos de Martim com a tribo começam aí. Ele era amigo dos pitiguaras, mas não só tinha sido acolhido pelos tabajaras como estava apaixonado por Iracema

O guerreiro Irapuã, contudo, que também amava a índia, aproveita para tentar matar Martim quando o rapaz decide fugir do combate entre as tribos.

Iracema, por sua vez, é filha do pajé e não pode se casar, pois é a guardiã do segredo da jurema, uma bebida mágica que, segundo a lenda, é a bebida do próprio deus Tupã.

Entretanto, ao perceber que Martim pretende fugir, Iracema trai a sua tribo numa noite e se entrega ao amado, perdendo a condição de guardiã do segredo e tornando-se esposa do português.

Sendo assim, antes que o conflito se iniciasse, Iracema e Martim decidem fugir juntos para a tribo dos pitiguaras, onde o chefe Poti os receberia.

Movidos pela fúria de Irapuã e de toda a tribo, os tabajaras passam a segui-los durante essa fuga. Assim que o casal de apaixonados alcança os índios litorâneos, os tabajaras chegam e se inicia o combate entre as duas tribos.

No fim, a tribo de Iracema perde a batalha. Mesmo triste e abalada com a derrota de seu povo, ela e Martim passam a viver com os pitiguaras. Contudo, com o tempo, Martim começa a desprezá-la, não mostrando mais grande interesse pela índia dos lábios de mel.

Isso porque o português sentia saudades de sua terra natal e vivia em um dilema, pois não podia levar Iracema para Portugal, mas também não queria abandoná-la.

Assim, ele começa a participar mais ativamente dos afazeres da tribo e ganha o nome de Coatiabo, transformando-se num grande combatente e caçador, ficando muito tempo longe de casa.

Iracema, por sua vez, sente-se extremamente sozinha e triste, pois perdeu sua tribo, não pertence ao povo dos pitiguaras de fato e está cada vez mais afastada de seu amor.

Em determinado momento, Iracema se descobre grávida de Martim e sofre ainda mais com a ausência do esposo, dando à luz o filho, Moacir, às margens de um rio, sozinha. Pouco depois, ela acaba morrendo de tristeza.

Isso faz com que Martim, o bebê e seu cão de estimação voltem para Portugal. Algum tempo depois, eles retornam ao Brasil com o objetivo de colonizar o Ceará.

Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu.

Estrutura da obra

Iracema é um romance da primeira fase do Romantismo no Brasil e está dividido em 35 capítulos, ao incluirmos a introdução com a Carta ao Dr. Jaguaribe. Ao todo, o livro tem cerca de 100 páginas, dependendo da edição.

A obra é um dos mais famosos romances da fase indianista, na qual o herói romântico passa a ser o índio e se torna o emblema nacional do Brasil da época.

Também se destaca a simbologia presente na obra, pois Iracema é um anagrama da palavra América. Logo, a índia representa a América virgem, recém-descoberta pelos colonizadores europeus, papel desempenhado por Martim.

Da relação entre os dois, nasce Moacir, um filho que representa o Brasil ou o povo brasileiro. Com isso, é possível dizer que Iracema é um romance de alegoria.

Outro fato interessante na estrutura da obra é a utilização de uma grande pesquisa histórica, pois José de Alencar foi inspirado por fatos e personalidades históricas e por lendas da região.

As notas de rodapé da obra comprovam esse fato e mostram o tanto de conhecimento que o autor buscou para escrever a sua narrativa, tendo até estudado expressões e costumes indígenas da época que são muito bem retratados durante o enredo.

Narrador

A narrativa é feita em terceira pessoa por meio de um narrador onisciente, mas que não participa do enredo, ou seja, um narrador heterodiegético.

No que diz respeito ao foco narrativo e à linguagem, não há muito mistério, mas vale mencionar o uso constante de prosa poética para exaltar as belezas da índia e da natureza.

A prosa poética utilizada em Iracema é cadenciada, ou seja, possui sonoridade, ritmo e diversos recursos típicos de poemas, mesmo se tratando de um texto em prosa.

Essa técnica torna o livro coerente em sua forma, composta por uma linguagem poética, e em seu conteúdo, dotado de personagens bem construídos, por mais que eles sejam sempre planos e caricatos, como é costume no Romantismo.

Tempo

O tempo dessa obra não é totalmente linear, ou seja, o enredo não se desenrola de modo contínuo, principalmente por causa do primeiro capítulo. Para uma melhor compreensão do que estamos falando, vamos organizar o tempo da seguinte forma:

  • Primeiro capítulo: mostra a conclusão da história, ou seja, Martim partindo com o filho e o cão para sua terra natal.
  • A partir do segundo capítulo: a história começa a ser contada de forma cronológica, mostrando o amor entre Iracema e Martim.

Por isso, para concluir melhor a trama, você pode reler o primeiro capítulo após terminar o livro.

Apesar desse detalhe, a maior parte da obra ocorre em tempo cronológico, marcado por meio dos elementos da natureza, como a mudança de estações, as fases da lua, o nascer e o fim do dia.

Por último, podemos relacionar o tempo do romance com o contexto histórico da época, uma vez que a obra também traz questões sobre a colonização do Brasil.

Espaço

O espaço principal da narrativa é o Ceará, sendo que o autor destaca constantemente as cores da natureza local com belas descrições, repletas de adjetivos, das paisagens da região.

Contudo, em relação a lugares específicos, temos a região litorânea e a floresta do interior do Ceará. O narrador também cita locais conhecidos, como Porangaba e Mecejana.

Principais personagens

Os personagens de Iracema são planos, como é costume em obras do Romantismo. Entre eles, destacam-se:

Iracema

Protagonista da história, sendo a figura da donzela romântica idealizada que, na obra em questão, ganha ares de herói, apesar de ser uma personagem feminina. Ao longo do tempo, Iracema se tornou o grande símbolo do protagonismo indianista da primeira fase do Romantismo no Brasil.

Na história, a índia é filha do pajé da tribo dos tabajaras, sendo a guardiã do segredo da jurema. Segundo Alencar em sua narrativa, Iracema era caracterizada como “[…] a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira”.

Iracema representa o Novo Mundo, ou seja, a América recém-descoberta, que passa a ser colonizada e destruída com a chegada dos europeus.

Martim

É a figura do herói romântico, um colonizador português que se torna um guerreiro aliado da tribo dos pitiguaras. Contudo, ao longo da narrativa, Martim se afasta do modelo de herói, pois passa a ser negligente com Iracema.

Segundo Alencar, Martim era descrito como tendo “[…] nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas”.

Martim representa a Europa e os colonizadores, ou seja, o responsável pelo sofrimento de Iracema, que representa o Novo Mundo.

Irapuã

Antagonista da história, chefe dos guerreiros da tribo dos tabajaras, Irapuã é inimigo dos portugueses e dos pitiguaras e aliado dos holandeses.

O personagem é caracterizado como corajoso e muito agressivo, sempre motivado pelas piores emoções, em especial pelo ódio que passa a nutrir pelo casal protagonista.

Com ciúmes da relação entre os dois, ele tenta se vingar de várias formas ao longo da narrativa. Irapuã representa os costumes e tradições indígenas que foram deixados de lado, representa aqueles que eram contra a vinda dos colonizadores para o Brasil.

Poti

Um dos chefes dos guerreiros pitiguaras, é amigo de Martim, de quem se considera irmão. Poti se destaca na luta dos portugueses contra os invasores holandeses no final do romance. Foi o primeiro índio a ser batizado, recebendo o nome de Antônio Felipe Camarão.

Araquém

Pai de Iracema e Caubi, Araquém é o pajé dos tabajaras. Como feiticeiro da tribo, detém os poderes de Tupã. Sua força está na prudência e na sabedoria da velhice.

Caubi

É filho de Araquém e irmão de Iracema. Guerreiro forte e valente que não nutre ódio pela irmã, apesar de tudo.

Moacir

É o filho de Iracema e Martim. Representa a miscigenação entre o português e o índio, simbolizando o primeiro cearense e o próprio povo brasileiro.

Iracema não se ergueu mais da rede onde a pousaram os aflitos braços de Martim. O terno esposo, em que o amor renascera com o júbilo paterno, a cercou de carícias que encheram sua alma de alegria, mas não a puderam tornar à vida: o estame de sua flor se rompera.

Contexto histórico

O contexto histórico de Iracema tem muitas facetas. A inspiração para o desenvolvimento e a escrita dessa história lançada em 1865, segundo o próprio José de Alencar, foi uma lenda que ele ouvira no Ceará, onde nasceu e viveu quando era criança. Para escrever a obra, ele pesquisou lendas, mitos e histórias locais sobre tribos indígenas e o povo da região.

Entretanto, um dos fatores históricos mais marcantes no livro é euforia nacionalista que se iniciara com a Independência do Brasil. Assim, o Romantismo chegou em um período no qual o nosso país passava por um processo de valorização cultural nacional, ou seja, num período em que se procurava uma identidade nacional.

Logo, coube à literatura representar, tanto na poesia quanto na prosa, esses aspectos nacionalistas, fazendo com que o Romantismo se afastasse do movimento que ocorria na Europa ao assimilar aspectos da nossa realidade.

Assim surgiu a iniciativa chamada de “cor local”, que se apresentava trazendo as particularidades da nossa pátria para a produção literária, ou seja, valorizando a natureza tropical, a linguagem local e as influências indígenas e africanas em nossa sociedade.

A obra Iracema, sem dúvidas, é o mais importante romance da primeira fase do Romantismo, a geração indianista, bem como da vanguarda da “cor local”.

Análise

Iracema, o símbolo desse período romântico inicial, foi um livro pioneiro que fez parte da fundamentação dessa escola literária. José de Alencar, seu autor, é o primeiro grande escritor brasileiro.

Na narrativa, ele criou sua obra máxima por meio de uma história romântica que mistura aventuras épicas, lirismo e traz o nascimento de uma figura heroica brasileira, ou seja, a figura do índio.

Podemos facilmente encontrar as características da narrativa romântica na obra. Por exemplo, a visão idealizada da mulher, sempre associada à beleza, à pureza e à natureza, se manifesta quando Iracema é constantemente comparada com as belezas naturais da região em frases cheias de metáforas e comparações.

Outro aspecto importante a ser ressaltado é que Iracema possui uma grande utilização de expressões indígenas e brasileiras comuns na época, o que faz com que a obra se torne ainda mais marcante na criação dessa vanguarda literária nacionalista.

As metáforas sobre a fundação do Ceará e sobre a própria colonização do Brasil pelos portugueses são outros grandes aspectos essenciais da obra, o maior romance da primeira fase do Romantismo no Brasil.

E então? Gostou do nosso resumo de Iracema, de José de Alencar? Leia também nossas análises de outras obras do autor:

Até logo!

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