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Impactos socioemocionais da pandemia para crianças e jovens: quais são e como mitigá-los

Olá, leitor(a)! 

Março de 2020. Repentinamente, os estabelecimentos públicos foram fechados; os serviços não essenciais, restringidos; as aulas presenciais, suspensas por tempo indeterminado e as interações sociais, proibidas.  

Além das marcas físicas e sanitárias deixadas pela pandemia de Covid-19, a propagação da doença e suas consequências tiveram significativos impactos sobre a formação socioemocional de crianças e jovens. Os efeitos nesse campo ainda são imensuráveis, mas reverberarão no futuro desses indivíduos e devem ser mitigados o quanto antes. 

Habilidades socioemocionais e sua importância

Habilidades socioemocionais, ou seja, ligadas à forma como nos relacionamos conosco e com o outro, são essenciais, principalmente em tempos de crise. Elas são fundamentais para que as crianças e os(as) adolescentes possam compreender e interagir com o ambiente onde vivem e realizar escolhas mais conscientes ao longo da vida. 

Tradicionalmente, as habilidades socioemocionais se dividem em 5 grandes pilares, cada um com diversos itens, totalizando 17 capacidades. O pilar de autogestão, por exemplo, inclui determinação, responsabilidade, foco, persistência e organização. Outra competência principal, chamada engajamento com os outros, engloba assertividade, iniciativa social e entusiasmo. 

Há também os pilares de amabilidade (abarcando empatia, respeito e confiança) e de resiliência emocional (incluindo tolerância ao estresse, tolerância à frustração e autoconfiança). Por fim, abertura para o novo traz os itens: interesse artístico, imaginação criativa e curiosidade para aprender. 

As habilidades socioemocionais, que vêm ocupando o centro do debate há algum tempo, são imprescindíveis para os(as) indivíduos(as), já que influenciam em todas as situações da vida. Elas estimulam o protagonismo, o senso crítico, a responsabilidade ética, o autoconhecimento, a construção de valores e de relações saudáveis. 

Trabalhar as habilidades socioemocionais é importante para o desenvolvimento pleno das pessoas e elas devem ser abordadas pelas instituições de ensino. Das 10 competências gerais definidas pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular)4 dizem respeito exclusivamente às habilidades socioemocionais, incluindo autoconhecimento, empatia, responsabilidade, ética, argumentação e pensamento crítico. 

O âmbito socioemocional se manifesta no presente e no futuro de todas as pessoas, seja na vida acadêmica, profissional ou social. Por isso, as consequências da pandemia de Covid-19 sobre essas habilidades, especialmente em crianças e jovens, não devem ser negligenciadas. 

Impactos socioemocionais da pandemia para crianças e jovens

Fonte: Reprodução

Impactos socioemocionais sobre crianças e jovens

Segundo Guilherme Polanczyk, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a ameaça contra a vida, as perdas econômicas, o isolamento social e a mudança na rotina são fatores de estresse. “(A pandemia) tem um aspecto de ameaça à saúde, o que já traz um medo muito grande, e um impacto emocional. Cada criança sente isso de uma forma, de acordo com seu repertório. O estresse pode se manifestar por anos e ainda é imensurável”, afirmou ele no evento Educação 360°, em setembro de 2021. 

Os efeitos sobre essa faixa etária, por ocorrerem em uma fase de desenvolvimento, podem permanecer até a fase adulta. A juventude é um período marcante, intenso, cheio de paixões e mudanças, no qual as novas vivências, as descobertas e a formação de vínculos são essenciais para a construção das personalidades. 

Além de abalar o compartilhamento de experiências nesse momento decisivo da vida, a pandemia provocou a ausência de ritos de passagem. Formaturas, bailes, festas de aprovação e recepção aos calouros, todos muito importantes para o desenvolvimento dos(as) adolescentes, foram suspensos por conta das restrições sanitárias. 

Essa situação, somada ao declínio das atividades lúdicas e de lazer, acabou gerando distúrbios de humor, ansiedade, pânico e até depressão. Para Marcus Barão, presidente do Conselho Nacional da Juventude e coordenador da pesquisa Atlas das Juventudes, que também falou no Educação 360°, em 2020, a saúde mental foi marcada por sentimentos negativos, como insônia, problemas de apetite, uso excessivo de redes sociais e brigas dentro em casa.  

O estudo Atlas das Juventudes foi realizado em 2020 e em 2021 pelo Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE), em parecia com diversas instituições e organizações juvenis. A pesquisa coletou dados de 68 mil jovens de todo o país, com idade de 15 a 29 anos. Eles(as) responderam a um questionário remoto entre março e abril de 2021. De acordo com o levantamento, 6 a cada 10 jovens relataram ter sentido ansiedade e usado exageradamente as redes sociais durante a pandemia. Além disso, 5 em cada 10 disseram sentir exaustão ou cansaço e 4 em cada 10 tiveram insônia ou distúrbios de peso. 

Para Jairo Bouer, médico, psiquiatra e comunicador, também presente no Educação 360°, a geração atual já sofria com problemas de depressão e ansiedade há pelo menos 10 anos, o que foi intensificado pela pandemia e pelo isolamento social. “Essa geração, apesar de ser nativa digital, sentiu muita falta do contato físico. Estar longe da escola e dos colegas, por exemplo, impactou a construção de sua identidade, já que a escola vai além da questão do conteúdo, é um espaço de interação social e aprendizado conjunto”, comentou. 

Ações para mitigar os impactos socioemocionais da pandemia

Ainda não é possível mensurar com exatidão as consequências socioemocionais da pandemia para o futuro de crianças e jovens. Contudo, algumas ações podem ser tomadas desde já para diminuir o avanço desses impactos. Entre os itens de abrangência ampla, estão a identificação precoce, o monitoramento de grupos vulneráveis e o atendimento de fácil acesso. 

Também há pequenos atos cotidianos que podem ser realizados para amenizar o sofrimento emocional das crianças. Em março de 2020, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) divulgou 10 recomendações sobre ensino a distância e uma delas diz respeito aos desafios psicossociais e às interações humanas que, segundo o texto, devem receber prioridade. 

Outras ações que podem ser aplicadas incluem encontrar formas de comemorar momentos importantes da vida, como o fim do ensino médio, o ingresso na faculdade, o aniversário de 18 anos, e manter o mínimo de contato social. Os pais também devem perceber os sinais de estresse das crianças e fornecer respostas positivas, garantindo acolhimento e segurança. 

As habilidades socioemocionais são fundamentais para lidar com um futuro incerto e tanto Polanczyk quanto Barão Bouer concordam que a sociedade deve se organizar de modo intersetorial para mitigar os efeitos da pandemia sobre esse âmbito do desenvolvimento humano. “Precisamos de um plano de retomada intersetorial que envolva questões sanitárias, familiares, econômicas e emocionais e seja realizado por profissionais especializados. Assim, será possível construir uma rede ampla de apoio”, finalizou Barão. 

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