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Resumo de livro: Eu e Outras Poesias, de Augusto dos Anjos

Olá, leitor!

O livro Eu e Outras Poesias foi publicado em 1912 por Augusto dos Anjos, poeta que fez parte do Pré-Modernismo. Esse período compreende o início do século XX, tendo como marco cronológico o ano de 1902, com a publicação dos livros Canaã, de Graça Aranha (1868 –1931), e Os Sertões, de Euclides da Cunha (1866 –1909).

A escola literária acompanha a fase conhecida como Belle Époque, na qual despontaram os movimentos artísticos europeus de vanguarda. A Belle Époque tem como características a apologia à modernidade e ao desenvolvimento tecnológico e toma a Inglaterra e a França como centros culturais.

Porém, há outros traços bem peculiares dessa vertente, que são a ênfase na morbidez e na decadência e a abordagem dos aspectos negativos da prosperidade tecnológica que o mundo via então. Esses itens foram bastante explorados por Augusto dos Anjos em seus versos.

MEDITANDO

Penso em venturas! A alma do homem pensa

Sempre em venturas! Sorte do homem! O homem

Há de embalar eternamente a crença

Sem ter grilhões e sem ter leis que o domem!

 

Punjam-no os vermes da Desgraça, assomem

Descrenças, surjam tédios na Descrença,

Luta, e morrem os vermes que o consomem,

Vence, e por fim, nada há que o abata e o vença!

 

Por isso, poeta, eu penso na Ventura!

E o pensamento, na Suprema Altura

Sinto, no imenso Azul do Firmamento

 

Ir rolando pelo ouro das estrelas,

E esse ouro santo vir rolando pelas

Trevas profundas do meu pensamento!

Influências estéticas

Eu e Outras Poesias

Fonte: Reprodução

Logo no começo, é perceptível a influência parnasiana, vista no forte rigor formal, nos versos rimados e isométricos quase sempre decassílabos.

Ao mesmo tempo, destaca-se a influência do Simbolismo, evidenciada pela sonoridade dos versos e por alguns aspectos temáticos, como a morte, o sonho e o mistério.

Por outro lado, há na obra indícios da modernidade, como a linguagem agressiva e por vezes coloquial, a menção ao lado negativo da forte industrialização que ocorria na época e a presença de críticas sociais.

Recorrendo frequentemente aos temas da morte, do desânimo e do pessimismo, Augusto dos Anjos afasta a poesia do ideal padrão de beleza. Por isso, ficou conhecido como o “poeta da morte”.

A obra de Augusto dos Anjos é extremamente original e ele é considerado um dos poetas mais críticos de sua época. Sua escrita era certeira e única.

APOCALIPSE

Minha divinatória Arte ultrapassa

Os séculos efêmeros e nota

Diminuição dinâmica, derrota

Na atual força, integérrima, da Massa.

 

É a subversão universal que ameaça

A Natureza, e, em noite aziaga e ignota,

Destrói a ebulição que a água alvorota

E põe todos os astros na desgraça!

 

São despedaçamentos, derrubadas,

Federações sidéricas quebradas…

E eu só, o último a ser, pelo orbe adiante,

 

Espião da cataclísmica surpresa,

A única luz tragicamente acesa

Na universalidade agonizante!

Notas sobre o autor

Seu nome completo era Augusto de Carvalho dos Anjos, nascido no dia 28 de abril de 1884, no Engenho do Pau d’Arco (PB). Seus pais eram donos de engenhos, que foram perdidos com o tempo por conta do fim da monarquia e da abolição da escravidão.

Foi educado em casa, estudou no Liceu Paraibano e se formou na Faculdade de Direito do Recife, mas nunca exerceu a profissão. Cresceu rodeado por livros e escrevia versos desde criança. Suas poesias causavam muita polêmica, dividindo opiniões. Na Paraíba, era chamado de “Doutor Tristeza” por conta dos temas de seus poemas.

Ele se casou com Ester Fialho em 1910 e teve 3 filhos, mas o primogênito acabou morrendo prematuramente. Quando a situação financeira da família se agravou por conta da industrialização e da queda do preço da cana-de-açúcar, eles se mudaram para o Rio de Janeiro.

Lá, Augusto dos Anjos trabalhou como professor na Escola Normal e no Colégio Pedro II. Transferiu-se para Minas Gerais em 1914, quando foi nomeado diretor do Grupo Escolar de Leopoldina. Apenas alguns meses depois, faleceu por conta de uma pneumonia.

O MAR, A ESCADA E O HOMEM

“Olha agora, mamífero inferior,

“À luz da espicurista ataraxia,

“O fracasso de tua geografia

“E do teu escafandro esmiuçador!

 

“Ah! Jamais saberás ser superior,

“Homem, a mim, conquanto ainda hoje em dia,

“Com a ampla hélice auxiliar com que outrora ia

“Voando ao vento o vastíssimo vapor.

 

“Rasgue a água hórrida a nau árdega e singre-me!”

E a verticalidade da Escada íngreme:

“Homem, já transpuseste os meus degraus?!”

 

E Augusto, o Hércules, o Homem, aos soluços,

Ouvindo a Escada e o Mar, caiu de bruços

No pandemônio aterrador do Caos!

Augusto dos Anjos vivenciou a fase do Parnasianismo e do Simbolismo, vendo o peso de grandes escritores como Alberto de Oliveira (1857 – 1937), Olavo Bilac (1865 – 1918) e Cruz e Sousa (1861 – 1898).

Porém, Eu e Outras Poesias, seu único livro, trouxe muita inovação para a literatura. Por isso, Augusto dos Anjos é tradicionalmente colocado no período literário que se convencionou chamar de Pré-Modernismo, ao lado de Lima Barreto (1881 – 1922), Euclides da Cunha (1866 – 1909) e Monteiro Lobato (1882 – 1948).

Augusto dos Anjos representa a união da literatura do século XIX com os movimentos modernistas que chegaram nas primeiras décadas do século XX. Estando entre esses dois universos, estabeleceu uma ponte entre eles.

VENCEDOR

Toma as espadas rútilas, guerreiro,

E à rutilância das espadas, toma

A adaga de aço, o gládio de aço, e doma

Meu coração — estranho carniceiro!

 

Não podes?! Chama então presto o primeiro

E o mais possante gladiador de Roma.

E qual mais pronto, e qual mais presto assoma

Nenhum pôde domar o prisioneiro.

 

Meu coração triunfava nas arenas.

Veio depois um domador de hienas

E outro mais, e, por fim, veio um atleta,

 

Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem…

E não pôde domá-lo enfim ninguém,

Que ninguém doma um coração de poeta!

Análise da obra

O título de Eu e Outras Poesias aponta para uma obra voltada à exposição dos sentimentos humanos. Essa não é uma informação sem razão, já que, em sua essência, o livro aborda a humanidade, apesar de fazê-lo de uma perspectiva de incompletude e derrota.

Algo que não se pode negar é certo moralismo assumido pelo poeta. O que se sobressai é a imagem pessimista do ser humano, concebido como uma matéria em constante decadência sem nenhuma alternativa de salvação.

Tratando-se de linguagem, destacam-se as estranhas metáforas que se aproximam do Expressionismo, com termos excêntricos e recursos superlativos.

Falecido aos 30 anos, o próprio autor reconheceu que seu livro causou um verdadeiro choque na época. Entre tantas críticas e elogios, havia uma unanimidade sobre a obra: sua linguagem grotesca e técnica contrariava a visão positiva que muitos tinham das mudanças sociais e econômicas do período. Oito anos após o lançamento, foi feita uma nova edição e o livro alcançou grande popularidade.

O MORCEGO

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.

Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:

Na bruta ardência orgânica da sede,

Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

 

“Vou mandar levantar outra parede…”

— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho

E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,

Circularmente sobre a minha rede!

 

Pego de um pau. Esforços faço. Chego

A tocá-lo. Minh’alma se concentra.

Que ventre produziu tão feio parto?!

 

A Consciência Humana é este morcego!

Por mais que a gente faça, à noite ele entra

Imperceptivelmente em nosso quarto!

Importância do livro

Eu e Outras Poesias, lançado em 1912, foi o único livro publicado pelo autor ainda em vida. Em seus versos, há uma poesia que dialogava de maneira bem particular com as influências artísticas da época.

Falando de forma geral, Eu e Outras Poesias representa a soma de todos os estilos que circularam do final do século XIX até o início do século XX, recebendo influências do Decadentismo, do Parnasianismo e do Simbolismo e antecipando muitas características modernistas.

Em decorrência disso, podemos afirmar que a obra de Augusto dos Anjos é múltipla e original, tendo entre seus principais traços uma linguagem extravagante e científica e a temática do vazio das coisas, da finitude e da morte. Fala também sobre a decomposição da matéria, a melancolia, o pessimismo, a descrença na sociedade, as paixões transitórias, os amores fúteis.

DUAS ESTROFES

(À memória de João de Deus)

Ahi! ciechi! il tanto affaticar che giova?

Tutti torniamo alla gran madre antica

E il nostro nome appena si ritrova.

Petrarca

 

A queda do teu lírico arrabil

De um sentimento português ignoto

Lembra Lisboa, bela como um brinco,

Que um dia no ano trágico de mil

E setecentos e cinqüenta e cinco,

Foi abalada por um terremoto!

 

A água quieta do Tejo te abençoa.

Tu representas toda essa Lisboa

De glórias quase sobrenaturais,

Apenas com uma diferença triste,

Com a diferença que Lisboa existe

E tu, amigo, não existes mais!

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Até logo!

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