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Estudo analisa comportamento de leitura infantil

Olá!

Por que é mais fácil para algumas pessoas aprender a ler e difícil para outras?

O site da revista americana New Yorker, publicou uma análise de um estudo feito sobre esse assunto. Olha só.

Bom… a pergunta acima é complicada. Sabe-se que não se trata apenas de inteligência, nem sobre um treino da prática da leitura de forma repetida e persistente. Também sabe-se que existem algumas condições que podem atrasar o desenvolvimento da criança. O nível socioeconômico, por exemplo, tem sido ligado à habilidade da leitura. E, independentemente da sua origem, as crianças com habilidade verbal mais baixa e aqueles que têm dificuldades com a fonética parecem ter mais dificuldade. Mas o que está por trás dessas diferenças? Como é que, em primeiro lugar, aprendemos a traduzir símbolos abstratos em sons com significado e por que algumas crianças são melhores nisso do que outras?

Esse é o mistério que incentivou o trabalho de Fumiko Hoeft, uma neurocientista cognitiva e psiquiatra da Universidade da Califórnia, em São Francisco. “Você sabe de onde vem a cor dos seus olhos, suas características faciais, seu cabelo, sua altura. Talvez até sua personalidade: sou teimoso como minha mãe, desleixado como meu pai. Mas o que estamos tentando descobrir, olhando as redes cerebrais e levando em conta o ambiente, é de onde se origina suas habilidades de leitura”, diz Hoeft.

O estudo

Hoeft e seus colegas da UCSF publicaram os resultados de um estudo de 3 anos em que olhavam a neurociência básica do desenvolvimento da leitura.

Entre 2008 e 2009, Hoeft recrutou um grupo de crianças de 5 e 6 anos. Algumas com histórico de dificuldades para ler, outras não. Além de terem seus cérebros escaneados, as crianças foram testadas em várias habilidades cognitivas, assim como diversos outros fatores, incluindo como elas seguiriam instruções e como se expressariam de forma coerente.

Os pais também foram pesquisados, e a vida na casa de cada criança foi analisada cuidadosamente: como a criança passa o tempo em casa? Alguém lê para ela com frequência? Quanto tempo ela passa vendo TV? Três anos depois, o cérebro de cada criança foi escaneado de novo e elas foram testadas em vários testes de fonologia e leitura.

Resultados

Quando Hoeft levou em conta todos os fatores que estiveram ligados a dificuldade de leitura no passado – risco genético, fatores ambientais, capacidade de linguagem na pré-alfabetização, e sobretudo capacidade cognitiva –  ela descobriu que apenas uma coisa consistentemente previa o quão bem uma criança aprenderia a ler: o crescimento de uma substância branca em uma área específica do cérebro, a região temporoparietal esquerda.

A quantidade de substância branca numa criança do jardim de infância não fazia diferença. Mas a mudança de volume entre o jardim de infância e terceira série fez.

O que é essa substância branca?

Você pode imaginar como se fosse uma estrada neural no cérebro, rodovias que conectam as várias partes do córtex e da superfície cerebral. Informação, na forma de sinais elétricos, corre através dessa matéria branca, permitindo a comunicação entre as diferentes partes do cérebro: você vê algo, você dá significado a isso, você interpreta esse significado.

Hoeft viu um aumento no volume de vias no temporoparietal esquerdo, que é essencial no processo fonológico, de fala e leitura. Ou, como Hoeft explica, “é onde você faz o trabalho de ligar sons e letras e como eles se correspondem”.

Os resultados sugerem que, se não acontecer o aumento da substância branca em um momento crucial do desenvolvimento, a criança terá dificuldade em saber como olhar para as letras e transformá-las em palavras com significado.

E a dislexia?

A descoberta de Hoeft baseia-se também em pesquisas anteriores que ela realizou com dislexia. Em 2011, ela descobriu que, enquanto nenhuma medida comportamental poderia prever quais crianças disléxicas iriam melhorar suas habilidades de leitura, uma maior ativação neural no córtex pré-frontal direito, juntamente com a distribuição de matéria branca no cérebro poderia, com 72% de exatidão, oferecer tal previsão.

Se ela olhasse para a ativação do cérebro como um todo, enquanto as crianças realizavam uma tarefa fonológica inicial, o poder de premonição subiu para mais de 90%. A inteligência e I.Q. não importavam; o importante era um padrão organizacional muito específico dentro do seu cérebro.

Genética

Os resultados do grupo vão um passo além. Eles não só mostram que a matéria branca é importante. Eles indicam um estágio crucial onde o desenvolvimento da substância branca é central para a habilidade de leitura.

E o desenvolvimento dessa substância, Hoeft acredita, é certamente uma função tanto natural quanto de criação. “Nossas descobertas podem ser interpretadas no sentido de que também há influência genética”, diz Hoeft, indicando que diferenças estruturais pré-existentes no cérebro, podem mesmo influenciar no futuro desenvolvimento da matéria branca.

Mas, ela acrescenta, “é também provável que o desenvolvimento da matéria branca dorsal representa o ambiente que as crianças são expostas entre o jardim de infância e a terceira séria. O ambiente em casa, o ambiente da escola, o tipo de instruções para leitura que recebem”.

Métodos de ensino para leitura

O objetivo de Hoeft não é só para entender a neurociência da forma como as crianças leem. A neurociência é a ferramenta para descobrir uma questão muito mais ampla: Como deve ser a educação para leitura?

Em outro estudo, que acaba de ser submetido para publicação, Hoeft e seus colegas tentam transformar sua compreensão da capacidade de leitura, para ajudar a identificar os métodos de ensino mais eficazes que poderiam ajudar a desenvolvê-lo.

Normalmente, as crianças seguem um caminho muito específico para leitura. Em primeiro lugar, há o processo fonológico essencial – a consciência de seus próprios sons. Esta consciência se transforma em fonética, ou a capacidade de decodificar um som de acordo com uma letra. E aqueles, enfim, se fundem na total e automática compreensão de leitura.

Algumas crianças, no entanto, não seguem esse caminho. Há também os pequenos que têm problemas com a decodificação, mas a sua compreensão de leitura é alta. “Queremos usar esses casos surpreendentes para entender o que permite que as pessoas sejam mais resistentes”, diz Hoeft.

Compreensão da leitura

Ela estudou, em particular, um conceito conhecido como dislexia discreta: pessoas que tem os sintomas de dislexia ou outros problemas de leitura, mas conseguem superá-los e se tornar grandes leitores. Hoeft pode inclusive, ser um deles: ela suspeita que sofra de dislexia não-diagnosticada.

Estudar essa dislexia discreta, segundo Hoeft, pode ser a chave para descobrir como melhorar a educação da leitura de forma mais ampla. Esses disléxicos têm problemas de leitura, mas são capazes de desenvolver muita compreensão ao mesmo tempo.

O grupo de Hoeft descobriu que os disléxicos discretos exibem um córtex pré-frontal dorsolateral diferenciado. Essa é a parte do cérebro que é responsável, entre outras coisas, para executar a função de auto-controle. Em disléxicos discretos, parece ser particularmente bem desenvolvida. Isso pode ser, em parte, genética, mas, Hoeft diz, também pode apontar para uma experiência educacional especial: “Se é a função executiva superior que está ajudando algumas crianças a se desenvolver apesar predisposição genética para o contrário, é realmente uma boa notícia, porque isso é algo nós fazemos bem –  sabemos como treinar a função executiva”.

O que os estudos de Hoeft demonstram é que não importa o ponto de partida de uma criança no jardim de infância, o desenvolvimento da leitura também depende, em grande medida, dos próximos três anos – e que esses três anos podem ser usados para ensinar algo que Hoeft agora sabe estar ligado em superar a dificuldade de leitura. “Isso pode significar que, nos estágios iniciais, é preciso prestar atenção para a essas funções executivas”, diz ela. “Precisamos começar a não apenas apresentar letras e sons da maneira que fazemos agora, mas, especialmente, se sabemos de alguém que pode ser um leitor com problema, olhar para estas outras habilidades, controle cognitivo e auto-regulação.”

Até mais!

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