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Resumo de livro: A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade

Olá, leitor!

O livro A Rosa do Povo foi publicado em 1945 e é aclamado em inúmeros setores da crítica literária como a melhor obra de Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), considerado um dos três poetas mais importantes da língua portuguesa. Antes de falarmos sobre o livro, é necessária uma recapitulação das principais características do estilo desse grande escritor mineiro.

Desde seu batismo em fogo em 1928, com a publicação do poema célebre No Meio do Caminho, Drummond ficou conhecido como “o poeta da pedra”. Um apelido que era para ser pejorativo, mas que ele encarou com alegria, tornando-o um dos símbolos de seu fazer literário.

A dureza e a frieza da pedra marcam a poesia de Carlos Drummond de Andrade, dotada de uma afetividade contida. Como Manuel Bandeira (1886 – 1968) e João Cabral de Melo Neto (1920 – 1999), ele se tornou, portanto, um dos principais pilares da poesia moderna, afastando o melodrama e as emoções exacerbadas.

A rosa do povo despetala-se,

ou ainda conserva o pudor da alva?

E um anúncio, um chamado, uma esperança embora frágil, pranto infantil no berço?

Talvez apenas um ai de seresta, quem sabe.

Mas há um ouvido mais fino que escuta, um peito de artista que incha,

e uma rosa se abre, um segredo comunica-se, o poeta anunciou,

o poeta, nas trevas, anunciou.

Importância da obra

A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade

Fonte: Reprodução

Mostrando o eu lírico com discrição ao refletir acerca do seu mundo, sentindo todos os sentimentos provindos da sociedade, tecendo críticas a todos, até mesmo aos seus círculos sociais, Drummond compõe uma obra única.

As figuras de linguagem, os jogos de palavras e os versos ricos são muito comuns em sua obra. Esse estilo traz outras interpretações e sentidos aos seus poemas, sendo que alguns podem ser considerados duais, já que abordam mais de uma temática, ou apresentam-se como poemas sem nexo. Mas todos os poemas da obra carregam consigo uma mensagem, por mais escondida que ela possa estar.

Esse estilo bem trabalhado não está apenas na linguagem, nas rimas, na métrica, pois, muitas vezes, tais parâmetros não existem, porque a forma como Drummond escreve está ligada diretamente aos acontecimentos do mundo naquela época. O próprio autor pode ser identificado no poema, mostrando-se como um deslocado do mundo.

Esse sentimento de não pertencimento ao mundo, especificamente ao ambiente urbano, pode ser explicado pela trajetória do poeta: um homem de origem rural, um filho de fazendeiros, que se encontra de repente no meio urbano, o que afeta significativamente sua produção poética.

ONTEM

Até hoje perplexo

ante o que murchou

e não eram pétalas.

 

De como este banco

não reteve forma,

cor ou lembrança.

 

Nem esta árvore

balança o galho

que balançava.

 

Tudo foi breve

e definitivo.

Eis está gravado

 

não no ar, em mim,

que por minha vez,

escrevo, dissipo.

Compreensão da obra

Para compreender melhor a obra, é importante lembrar a data de sua publicação: 1945. Essa foi uma época marcada por crises fenomenais, como a Segunda Guerra Mundial e, aqui no Brasil mais especificamente, a Era Vargas. O poeta mostra ser uma antena poderosa que capta os sentimentos, a agonia e as dores de sua época.

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira (MG) e estudou em um colégio interno em Belo Horizonte até voltar para a cidade natal por motivos de doença. Ele acabou ingressando em um outro internato, no Rio de Janeiro, mas foi expulso anos mais tarde.

Conseguiu sua formação, no curso de Farmácia, profissão que nunca exerceu. Foi como redator do jornal O Diário de Minas que entrou em contato com os escritores modernistas. No ano de 1934, Drummond ingressou no funcionalismo público e voltou ao Rio de Janeiro, até falecer em agosto de 1987, doze dias após a morte de sua filha.

Grande parte dos seus poemas funcionou como denúncia da opressão e da violência que marcaram a Segunda Guerra Mundial. Suas obras também eram muito saudosistas da terra natal e da infância e refletiam sobre experiências individuais, sobre a existência humana e sobre Deus. Drummond deixou uma vasta produção, com mais de trinta publicações reunindo crônicas, contos e poesias, entre as quais destacam-se Alguma Poesia, A Rosa do Povo, Claro Enigma, Contos de Aprendiz e Amar se Aprende Amando.

FRAGILIDADE

Este verso, apenas um arabesco

em torno do elemento essencial—inatingível.

Fogem nuvens de verão, passam aves, navios, ondas,

e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,

ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades

de sono se depositam sobre a terra esfacelada.

Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe

subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música

feita de depurações e depurações, a delicada modelagem

de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais

que um arabesco, apenas um arabesco

abraça as coisas, sem reduzi-las.

Contexto histórico

Os poemas do livro A Rosa do Povo foram escritos entre 1943 e 1945, período correspondente aos horrores da guerra. Durante essa época, a União Soviética apertava o cerco contra as tropas alemãs. No Brasil, o país assistia ao Estado Novo, comandado de forma ditatorial por Getúlio Vargas.

Entre 1934 e 1937, Vargas governou em uma fase constitucional. Nesse mesmo período, o Nazismo e o Fascismo ganharam força na Europa. Em 1937, com a consciência de que não venceria as eleições, Vargas divulgou o Plano Cohen e implantou uma ditadura. No ano de 1939, começou a Segunda Guerra Mundial e o Brasil foi pressionado pelos Estados Unidos para oferecer apoio no conflito, embora tenha entrado nas disputas ao lado os países do Eixo. Por conta dessas ações contraditórias, Vargas perdeu o apoio dos intelectuais, que dele haviam recebido altos cargos públicos.

NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO

Um sabiá

na palmeira, longe.

Estas aves cantam

um outro canto.

O céu cintila

sobre flores úmidas.

Vozes na mata,

e o maior amor.

Só, na noite,

seria feliz:

um sabiá,

na palmeira, longe.

Onde é tudo belo

e fantástico,

só, na noite,

seria feliz.

(Um sabiá,

na palmeira, longe.)

Ainda um grito de vida e

voltar

para onde é tudo belo

e fantástico:

a palmeira, o sabiá,

o longe.

Análise da obra

A Rosa do Povo é uma das principais obras de Carlos Drummond de Andrade, considerada um dos melhores livros dentro da produção poética do autor por conta de toda a maturidade literária que reflete.

No livro, é impressionante o crescente avanço do escritor em suas técnicas formais de construção poética, sendo ele responsável por difundir duas grandes conquistas literárias da época: a poesia metapoética, falando sobre metalinguagem e a própria função da arte no mundo; e o realismo social, que se refere ao engajamento nos conflitos da época.

Esse é o livro mais variado e extenso de Drummond, com 55 poemas, sendo alguns bem longos. A obra apresenta-se cheia de versos livres e irregulares, com estrofes despreocupadas com a métrica tradicional da poesia parnasiana. Contudo, também traz versos ritmados, metrificados e com rimas.

O estilo da obra é considerado ora mesclado, pois mistura um lirismo elevado com certa vulgaridade, com sentimentos grosseiros e sérios, ora puro, com um eu lírico extremamente poético e figuras de linguagem complexas. É um livro difícil, porém é muito elogiado e apreciado, chegando a ser uma das obras mais estudadas e discutidas em língua portuguesa.

Os poemas de A Rosa do Povo foram escritos nos anos em que acontecia a Segunda Guerra Mundial e estava em vigor a ditadura de Vargas no Brasil. Tais fatos provocaram e inspiraram Drummond a refletir sobre os tempos sombrios, falando dos horrores da guerra, das ideologias revolucionárias e das temáticas socialistas. Assim, ele tornou essa obra única e singular, repleta de críticas, revolta, indignação e lirismo.

poeta de Itabira, cheio de sensibilidade, buscou em seus antepassados a simplicidade da vida no campo de uma sociedade antiga e perdida. Comparou-a com a sociedade em que vivia para compreender as mudanças do mundo, da humanidade e de si mesmo. Assim, é predominante, no conjunto de seus poemas, uma dualidade: por um lado, é possível perceber uma visão desencantada e triste; por outro, há um chamado para uma participação política na vida.

ANÚNCIO DA ROSA

Imenso trabalho nos custa a flor.
Por menos de oito contos vendê-la? Nunca.
Primavera não há mais doce, rosa tão meiga
onde abrirá? Não, cavalheiros, sede permeáveis.

Uma só pétala resume auroras e pontilhismos,
sugere estâncias, diz que te amam, beijai a rosa,
ela é sete flores, qual mais fragrante, todas exóticas,
todas histórias, todas catárticas, todas patéticas.

Vêde o caule,
traço indeciso.

Autor da rosa, não me revelo, sou eu, quem sou?
Deus me ajudara, mas ele é neutro, e mesmo duvido
que em outro mundo alguém se curve, filtre a paisagem,
pense uma rosa na pura ausência, no amplo vazio.

Vinde, vinde,
olhai o cálice.

Por preço tão vil mas peça, como direi, aurilavrada,
não, é cruel existir em tempo assim filaucioso,.
Injusto padecer exílio, pequenas cólicas cotidianas,
oferecer-vos alta mercância estelar e sofrer vossa irrisão.

Rosa na roda,
rosa na máquina,
apenas rósea.

Selarei, venda murcha, meu comércio incompreendido,
pois jamais virão pedir-me, eu sei, o que de melhor se compôs na noite,
e não há oito contos. Já não vejo amadores de rosa.
Ó fim do parnasiano, começo da era difícil, a burguesia apodrece.

Aproveitem. A última
rosa desfolha-se.

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Até logo!

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