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Resumo de livro: A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector

Olá, leitor(a)!

Publicado em 1964, A Paixão Segundo G.H. é um romance da escritora brasileira Clarice Lispector. Permeado de inquietações e reflexões acerca da vida, o livro é marcado, assim como grande parte do trabalho da autora, pela utilização do fluxo de consciência – fazendo com que a história perpasse pelos pensamentos da personagem, o que transforma a narrativa em um romance introspectivo.

A personagem principal inicia uma análise existencial, a partir de um encontro inusitado, em que reflete sobre todas as questões que envolvem seu estado emocional: os medos, as angústias, etc.

Apesar de ter uma vida bem-sucedida profissionalmente e, geralmente, ser uma mulher bem estruturada, G.H. busca por sua identidade e autoconhecimento, pois se sente perdida e sem propósito no mundo.

 Ultrapassar a dor é a pior crueldade. E eu tenho medo disso, eu que sou extremamente moral. Mas agora sei que tenho de ter uma coragem muito maior: a de ter uma outra moral, tão isenta que eu mesma não a entenda e que me assuste.

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Resumo

A Paixão Segundo G.H.

Fonte: Reprodução

Embora possa ser descrita em um breve resumo, a narrativa em fluxo de consciência não permite que A Paixão Segundo G.H. seja contada de modo linear, isto é, não acompanhamos uma história que sinaliza nitidamente começo, meio e fim. O que lemos é uma sequência de pensamentos, com as mais distintas associações, e para compreendê-los, e consequentemente compreender a obra, é necessário realizar uma leitura mais atenta.

A narrativa inicia quando a personagem G.H. decide fazer uma limpeza no quarto de empregada, 6 meses após ter demitido a que trabalhava para ela – o que já dá indícios sobre a inércia da personagem, característica abordada no decorrer da obra. Entretanto, ao entrar no quarto, G.H. percebe que a empregada havia arrumado tudo antes de ir embora e que não havia o que limpar ali.

Assim, ao ver o quarto vazio, a solidão e a falta do que fazer, a personagem também percebe o próprio vazio interior, o vazio da sua própria existência. Após esse acontecimento, tomada pela angústia e pela aflição de não haver nada a fazer ali, G.H. procura algo e acaba por seguir em direção ao guarda-roupa, eis que uma barata sai de lá e a personagem é tomada pelo nojo, pela aflição e pela consciência de que sua vida está permeada por solidão.

A protagonista começa as suas reflexões e seus pensamentos acerca da sua vida e da existência humana no mesmo momento em que ganha a certeza de que deve enfrentar a barata, tocá-la e até mesmo provar o seu sabor.

Com esses pensamentos, G.H. é tomada por uma sensação nauseante e pela angústia que antecede o clima de catarse, após as reflexões dolorosas de sua vida e de sua própria fragilidade, e que a levam em sua viagem de pensamentos até atingir o clímax, que acaba em uma espécie de epifania.

A personagem enfrenta os seus próprios medos e questiona sua existência, reagindo a seus instintos animais mais primitivos e provando a barata, inclusive a massa branca que expele da casca arrebentada do inseto, o que simboliza a descoberta do seu verdadeiro estar no mundo.

No entanto, ao provar o inseto e ter percebido a insipidez – ou como ela descreve, “gosto de nada” – da massa branca da barata, a personagem cospe fora o conteúdo como se cuspisse fora seu interior, como se cuspisse fora a si mesma.

Depois de todos esses acontecimentos, G.H. sente dificuldade de expressar seus sentimentos e descrever todos os fatos ocorridos em sua epifania. Assim, não conseguindo narrar sua experiência, ela encerra a narrativa.

É que, quando amávamos, eu não sabia que o amor estava acontecendo muito mais exatamente quando não havia o que chamávamos de amor. O neutro do amor, era isso o que nós vivíamos e desprezávamos.

Estrutura da obra

A Paixão Segundo G.H. é um romance de 180 páginas, sem divisão de capítulos, marcado pelo fluxo de consciência – característica de uma história não apresentada em um enredo, mas sim por meio dos pensamentos e divagações do personagem – e discorre sobre a existencialidade.

O interesse principal de Clarice Lispector ao escrever essa obra não parece estar ligado ao desenvolvimento de enredo, mas sim à repercussão da consciência da personagem G.H. Outro fato interessante é a análise psicológica da personagem, que aborda termos profundos e característicos de todos os indivíduos.

A linguagem do romance é produzida de maneira mais formal, com a utilização de palavras e expressões menos comuns, bem como com uma estrutura mais objetiva e curta, deixando algumas frases e trechos da história incompletos ao passar de um pensamento para outro.

Isso porque a narrativa segue um tempo psicológico, ou seja, no breve período da situação do quarto vazio à degustação da barata, as divagações da personagem acontecem. Há também um narrador autodiegético que divide seus pensamentos com os leitores(as), o que significa, então, que a história está sendo narrada em primeira pessoa.

Narrador

A leitura de A Paixão Segundo G.H.  pode ser um pouco confusa e, como já mencionado anteriormente, requer atenção devido à quantidade de informações da narrativa, visto que se trata de um fluxo de consciência. Sendo assim, a personagem parte de uma reflexão sobre sua existência, o que caracteriza o romance como introspectivo.

Tempo

Ainda que o enredo não seja estruturado, sabemos apenas que a personagem G.H. está no quarto de empregada da sua casa – e que ele se encontra vazio, levando-a a refletir sobre o próprio vazio interior. Logo, pode-se caracterizar o tempo do romance como tempo psicológico, já que a maioria dos acontecimentos se passa dentro da cabeça da personagem.

Espaço

O espaço principal da obra é o quarto vazio da empregada, onde, com o aparecimento da barata, toda a reflexão da personagem se inicia. Ao ver o vazio do quarto, G.H. passa a fazer uma avaliação da sua existência e da sua solidão.

Podemos, inclusive, dizer que o espaço desta narrativa é de extrema importância; por meio dele, é possível o conflito da personagem com as suas angústias e medos, gerando uma tensão psicológica.

Personagem principal

Conforme observamos no resumo apresentado, a única personagem do romance é G.H., nomeada apenas pelas suas iniciais. Não dar nome e sobrenome para a personagem pode ser uma estratégia da autora para que todas as pessoas possam se identificar com a protagonista. A caracterização de G.H. se dá por meio de suas reflexões e pensamentos.

Somos apresentados a uma mulher de classe elevada e bem-sucedida, que se vê em uma crise existencial ao questionar o seu papel na sociedade e a razão de sua existência, o que a faz buscar a si mesma por meio de suas divagações.

Somente ao ver a barata, encará-la, esmagá-la e comê-la, G.H. consegue chegar à resposta de sua verdadeira razão de existir, isto é, sua razão de estar no mundo.

Análise

A Paixão Segundo G.H. é um romance caracterizado pelo fluxo de consciência e por discorrer sobre questões universais: autoconhecimento, existencialismo e propósito.

Clarice Lispector, por meio do seu processo de escrita singular, cria uma espécie de ligação entre o público e a história, como se buscasse a cumplicidade do(a) leitor(a), fazendo-o(a) se identificar com a obra.

A autora também utiliza procedimentos literários inovadores e incomuns, sendo respaldada por uma narrativa com mecanismos de representação da realidade de forma poética e polissêmica, tudo isso alicerçado pelo fluxo da consciência. O estilo fragmentado da narrativa também colabora com a inovação literária, pois, ao se desinteressar pelo enredo da obra, ou seja, contar uma história com meio, começo e fim, a escritora prefere mudar as regras da escrita de romances.

Outros 2 aspectos fundamentais para a obra são o apartamento e o quarto de empregada, pois ambos são importantes para uma metáfora do vazio e da própria caminhada das pessoas pela vida. Além disso, a barata, que simboliza o ponto de partida principal para as reflexões e pensamentos de G.H., é o que desencadeia o processo de introspecção total do romance.

Pode-se dizer que a obra apresenta algum surrealismo, contudo, uma espécie de surrealismo plausível, pois a peculiaridade da narrativa com a barata pode ser considerada um daqueles atos inconscientes e desesperados, como as coisas não convencionais que as pessoas podem fazer quando estão sozinhas e sem ninguém as observando – mesmo que se arrependam depois.

Por esses motivos, A Paixão Segundo G.H. é um dos grandes romances da literatura brasileira, assim como tantos outros escritos de Clarice Lispector. É importante, também, ressaltar que a obra se destaca pela reflexão profunda que faz sobre o existencialismo, uma das principais questões da filosofia e da condição humana.

O resumo ajudou a entender melhor a obra? Comente como foi sua experiência de leitura.

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Aproveite a leitura e até breve!

comentários (1)

  • Lilian Zucca

    Livro de difícil leitura, porém muito sedutor. Entrar no fluxo do pensamento de GH é um mergulho nas profundezas da consciência, nos sentimentos e emoções da personagem,, assim como nos instintos mais primitivos do seu ser.

    Responder

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